Animados pelos preços recordes alcançados pelo feijão, produtores que plantaram fora da janela recomendada e ainda não colheram correm o risco de ser multados. A razão é que o período de vazio sanitário para a cultura está valendo para o Distrito Federal, noroeste de Minas Gerais e algumas áreas de Goiás.
O vazio vai até o dia 20 de outubro nessas regiões. Quem for pego com planta viva na propriedade corre o risco de ser multado e ter que eliminar a lavoura. O objetivo é controlar o desenvolvimento da mosca-branca, praga que causa o mosaico dourado, uma das doenças mais nocivas ao feijão.
O produtor precisa ficar atento porque não basta colher o feijão antes de o vazio começar. É preciso cuidar, também, do nascimento voluntário de plantas em lavouras de outras culturas.
É o que ocorre na propriedade de Hélio Dal Bello, em Planaltina (DF), onde hoje há milho, mas o feijão insiste em voltar. Após uma aplicação de herbicida, as plantas que estavam vivas já morreram. Mas outras surgiram depois, e será preciso entrar com a máquina na plantação mais uma vez.
O produtor, que cultiva feijão em 660 hectares, teve quebra de quase 70% há três anos, por causa do mosaico dourado. Desde então, ele mobiliza toda que a região em que produz para que o vazio seja respeitado. Nesta safra, a preocupação é com quem vai atrasar a colheita porque plantou fora da janela.
Segundo Dal Bello, apenas uma pequena parte dos agricultores apostou nessa estratégia, incentivados por multas de baixo valor. “A consciência deles é dinheiro, não a comunidade como um todo”, diz.
Ele afirma que o feijão que nasce no meio do milho precisa ser controlado. “É nele que a mosca-branca vai se alojar, assim como no milho plantado na sequência”.
O vazio foi implantado no Distrito Federal em 2013, e vai de 20 de setembro a 20 de outubro. As multas variam entre R$ 15 mil e R$ 50 mil. No ano passado, 30 áreas foram visitadas e quatro autuações foram feitas. Em 2016, a expectativa é de que sejam fiscalizadas mais de 50 propriedades. Em apenas uma semana, três multas já foram aplicadas.
A gerente de Sanidade Vegetal da Secretaria de Agricultura do Distrito Federal, Marília Angarten, explica que o produtor autuado tem direito a apresentar defesa por escrito. O processo será então analisado e julgado, decidindo-se pela advertência ou pelo pagamento da multa.
“O valor é relativamente alto e deixa o produtor preocupado, sim. A multa, inclusive, pode ser dobrada caso ele já tenha sido autuado em períodos de vazios sanitários passados”, afirma a gerente.
Hélio Dal Bello acredita que a medida não é suficiente, e gostaria que a multa aplicada fosse de R$ 5 mil por hectare. “Aí quero ver quem vai mesmo plantar fora do período (recomendado)”.