O verão chega ao fim no próximo sábado, marcado por uma quantidade de chuva menor do que o normal. Pode parecer uma contradição, para quem testemunhou a imensa quantidade de água que atingiu o Paraná em janeiro ou mesmo todos os transtornos ocasionados pelo excesso de chuva em Mato Grosso, semanas atrás. Mas a realidade, de acordo com o meteorologista Celso Oliveira, da Somar, é que vem chovendo menos no Brasil durante o verão pelo menos desde 2012.
A redução na quantidade de chuva no verão não deve trazer consequências imediatas para a agricultura, afirma o meteorologista. Mas ele acredita que, mais à frente, a conta vai ser cobrada por meio de eventual aumento nos gastos com energia elétrica, já que os reservatórios estarão mais baixos. E talvez também com menor disponibilidade de água para irrigação durante o inverno.
“Talvez possa surgir alguma pressão lá na frente por diminuição do uso da água, por risco de desabastecimento dos centros urbanos. Para a agricultura, se o impacto do verão [mais seco] não foi dos maiores, vai trazer consequências aos produtores no decorrer do ano”, disse Celso Oliveira.
Pouca umidade no plantio
“A estação foi marcada por irregularidade e falta de chuva na instalação da safra e, por consequência, o excesso de umidade no fim, uma característica do fenômeno La Niña”, afirma o meteorologista. Chamou a atenção também a formação de algumas zonas de convergência do Atlântico sul ao longo da estação, concentrando o corredor de umidade da Amazônia entre o Sudeste e o Centro-Oeste.
O verão 2020/2021 se caracterizou pela presença do fenômeno La Niña no oceano Pacífico equatorial central e por temperaturas acima da média no oceano Atlântico. Além disso, a grande variabilidade nas águas superficiais do Pacífico equatorial leste favoreceu a formação de bloqueios atmosféricos em alguns momentos ao longo da estação, o que foi responsável pelas chuvas concentradas em determinadas áreas do Brasil.
Chuvas no verão
Até o último fim de semana, os locais que mais receberam chuva no Brasil ao longo da estação foram a região centro-norte de Mato Grosso; oeste e centro do Pará; oeste do Acre; e oeste e centro do Amazonas. Essas áreas registraram que passaram facilmente de 500 milímetros acima do normal no verão, prejudicando o escoamento da safra e trazendo novamente o problema dos atoleiros nas principais estradas.
Destaque também para chuvas acima da média, mas com acumulados mais modestos, em Santa Catarina; norte e sul do Rio Grande do Sul; oeste e centro do Paraná; sul e leste de Goiás; Distrito Federal; e norte do Piauí.
Por outro lado, choveu menos do que o normal na estação em grande parte de São Paulo, da Bahia, em Rondônia, Amapá e na faixa oeste de Mato Grosso.
No Pantanal mato-grossense e em algumas áreas do sertão nordestino não chegou a chover 50 milímetros no verão inteiro.
Com relação às temperaturas, houve até alguns episódios de geadas na Serra Catarinense, com mínimas em torno de 3 °C, por conta da atmosfera mais fria do que o normal, um dos efeitos do La Niña. No entanto, foi algo bem pontual.
“Não houve tanto destaque para as mínimas da manhã no país, mas as máximas da tarde ficaram acima do normal para a estação numa faixa desde o norte do Paraná até o interior do Rio Grande do Norte. Já no oeste de Santa Catarina, fez menos calor do que o normal no verão”, diz Celso Oliveira.