A presidente da Comissão Europeia, Ursula Der Leyen, anunciou nesta terça-feira, 26, durante o Fórum Econômico Mundial, que o bloco vai reforçar as leis para que empresas não comprem produtos ligados ao desmatamento. Em seu discurso, ela disse que o mundo precisa tirar lições da pandemia de Covid-19 e mudar a forma de fazer negócios.
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“É por isso que nós vamos propor o fortalecimento da due diligence para empresas e vamos propor legislação para garantir que o mercado da União Europeia não impulsione o desmatamento no outro lado do mundo. Nós sabemos quão importante isso é para investidores que estão em busca de projetos verdadeiramente sustentáveis. Nosso padrão de títulos verdes da União Europeia, por exemplo, e a taxonomia vão liderar o caminho. Isso vai trazer clareza sobre o que conta como atividades sustentáveis e ecologicamente corretas”, contou.
As leis mais rígidas podem impactar na compra de commodities e produtos agropecuários. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, entre agosto de 2019 e julho de 2020, apenas no Bioma Amazônia, foram desmatados 11 mil quilômetros quadrados. Os números que aumentaram ao invés de diminuir tiveram impacto na imagem do país e, há algumas semanas, repercutiram no setor declarações do presidente da França, Emanuel Macron, que associou esses resultados à produção agropecuária.
De acordo com o presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz, as alegações do francês são incoerentes. “A gente não vê como ameaça, mas a gente vê como algumas imposições ridículas que não tem credibilidade de quem não conhece nosso sistema de produção. Quando eles colocam isso, eu vejo que é mais pressão, porque o Brasil se tornou muito competitivo. Mesmo produzindo, deixando áreas de 20% a 80% [preservadas] dentro de sua propriedade a depender do bioma, ele é mais competitivo. O Brasil tem que parar de ser refém e começar a atacar esse tipo de situação”, disse.
Pela fala da presidente, o acordo entre Mercosul e União Europeia, que está em fase de revisões finais dos textos, também pode ser afetado pelas novas exigências “Da proteção da nossa democracia à proteção da nossa natureza, Europa tem tudo para ter ganhos a partir desta nova forma de cooperação internacional e setorial. E nós vamos oferecer ajuda aos nossos parceiros ao redor do mundo. De fundações a instituições globais, de presidentes de empresas a ONGs, e dos nossos parceiros mais antigos do outro lado do Oceano Atlântico até aqueles que queiram se juntar a nós”, disse.
Braz acredita, no entanto, que quem sairá perdendo com essas novas medidas serão os próprios europeus. “Eu acredito que isso não vai prejudicar a nossa situação, porque quem vai ser prejudicado serão eles. Nós temos mercados importantes na Ásia que cada vez mais demandam nossos produtos. Nós temos os países árabes que também têm buscado mais os nossos produtos, então quem deverá sair perdendo com essas imposições é o próprio continente europeu”.