Entre os grandes produtores de alimentos, o brasileiro é o que mais preserva vegetação nativa em todo o mundo: 66% do nosso território está intacto, de acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) confirmados pela Agência Espacial Americana (Nasa). Mas essa não é a percepção da sociedade em relação ao meio rural.
Como mudar isso e mostrar as virtudes do nosso agro, valorizando as pessoas e os recursos naturais e garantindo a competitividade das nossas mercadorias? Esse é um desafio que entidades verdadeiramente representativas do agro devem assumir em nome da manutenção de milhões de empregos e oportunidade para o país.
Para nos mantermos competitivos, aprendemos a respeitar as normas legais e investimos boa parte do nosso patrimônio em sustentabilidade dentro da propriedade rural. Entendemos que para ser eficientes, precisamos respeitar o meio ambiente, apoiar a formação de brigadas contra incêndios e queimadas e até manter parcerias com as polícias na formação de patrulhas para garantir segurança e paz no campo.
Enfrentamos dificuldades na construção de políticas que mantenham o produtor na atividade, principalmente os pequenos e médios, que são 90% dos sojicultores e os mais expostos às pressões dos grandes financiadores do agro. Esses recursos são captados no exterior e chegam ao Brasil com exigências e garantias descabidas. Nesse cenário, o agricultor paga juros altos e atua de forma sustentável, dentro da lei, para viabilizar a nossa produção.
As tradings e indústrias internacionais que operam dentro do Brasil têm de respeitar o nosso país e o nosso sistema de produção de alimentos, que é o mais desenvolvido e sustentável do mundo. Precisamos atuar juntos enquanto cadeia produtiva, mas é preciso que os atores da porteira para fora entendam a cabeça do produtor e o que acontece dentro da produção.
Hoje, o Brasil é pressionado em âmbito internacional por países que desconhecem a natureza dos biomas brasileiros e fazem exigências na área ambiental, mesmo sem gerir seus próprios recursos naturais como o Brasil, detentor das florestas de maior biodiversidade do planeta.
Desafiamos as empresas multinacionais que compram, processam e exportam a nossa produção a apontarem quais países fazem uso do sistema de plantio direto – tecnologia genuinamente brasileira que retém a água no solo, previne erosões e aumenta a produtividade das lavouras. E desafiamos as mesmas a mostrarem quais países obrigam por lei os produtores a reservarem de 20% a 80% de suas terras para fazer preservação de vegetação nativa dentro das propriedades. Só o Brasil faz isso!
Precisamos mudar esta visão que criminaliza o produtor de alimentos e encarar a produção a partir do reconhecimento da realidade em que ele está inserido. Essa imagem negativa é retratada desde a escola, expondo estudantes a um conteúdo preconceituoso e ideológico, que deseduca e distorce a realidade. Um crime de lesa pátria.
Se a produção e a preservação ambiental fossem retratadas em um filme, nós, agricultores brasileiros, não teríamos um papel secundário. Seríamos os protagonistas, os heróis que garantem segurança alimentar de mais de um bilhão de pessoas, geram empregos e fortalecem a economia de um país continental como o Brasil.
Por isso, convidamos a sociedade e os atores que estão no pós-porteira a conhecerem o sistema de produção brasileiro para que possamos mostrar como a nossa produção é sustentável. Aí, sim, conseguiremos um avanço muito grande.
Problemas existem, a começar, principalmente, pela inexistência de regularização fundiária. E aqueles que descumprem as leis vigentes devem ser responsabilizados. No entanto, não é hora de eleger culpados, mas, sim, de buscar soluções. E partir de um diálogo franco, pensarmos na melhor estratégia para comercializar nossos produtos nos mercados mundiais. Este é o Brasil que queremos: o que valoriza o agro eficiente.
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