Ação das mudanças climáticas sobre a cadeia alimentar marinha afetam a pesca no Atlântico Norte

Alerta foi feito pelo professor da UFRJ Jean Louis Valentin em reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da CiênciaO monitoramento do plâncton do Atlântico Norte, feito há 50 anos, mostrou que as mudanças climáticas globais estão afetando a distribuição das comunidades planctônicas com conseqüências sobre toda a cadeia alimentar marinha e, portanto, sobre a pesca.

O alerta foi feito pelo professor Jean Louis Valentin, do departamento de Biologia Marinha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na semana passada, durante a 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

No Atlântico Sul, no entanto, a falta de longas séries históricas impede a realização de estudos que avaliem a dimensão desses impactos.

? Observamos muitos fenômenos que podem estar sendo causados pelo efeito das mudanças climáticas sobre o plâncton, que é a base da cadeia alimentar marinha e fonte essencial dos recursos pesqueiros. Mas não podemos tirar conclusão alguma porque não temos séries temporais longas. Recomendo fortemente um monitoramento sistemático do plâncton ? disse ele.

De acordo com Valentin, o declínio da produção de sardinha na região de Cabo Frio, no litoral fluminense, é um exemplo de fenômeno que pode estar sendo causado por impactos do clima sobre o plâncton.

? A sardinha só existe ali por causa do fenômeno da ressurgência, que é um afloramento das águas do fundo, ricas em nutrientes. Isso faz crescer o plâncton, que é o único alimento da sardinha. O aumento da temperatura torna a água menos densa, provocando uma estratificação da coluna d’água, diminuindo a ressurgência ? explicou.

Segundo o professor, outros fenômenos ocasionados pelas mudanças climáticas podem estar também afetando as comunidades plantônicas na região do estuário do Rio da Prata.

? Com o aquecimento, há uma maior descarga de água continental, que altera a composição do plâncton. Isso tem diversos efeitos sobre a cadeia alimentar oceânica, podendo levar ao aparecimento de espécies exóticas e tóxicas ? disse Valentin.

Monitoramento urgente

De acordo com o especialista, o aquecimento global causa o deslocamento de comunidades planctônicas, levando espécies de águas frias a desaparecer, enquanto as de áreas quentes ocupam novas regiões. Valentin afirma que essa substituição de populações, que muda todas as relações tróficas, tem sido observada no hemisfério norte.

Segundo o cientista, como há necessidade de várias décadas de monitoramento sistemático, é preciso que os estudos comecem a ser feitos imediatamente. Para ele, isso poderia ser feito a partir de pontos de coleta próximos a laboratórios distribuídos pela costa brasileira.

? Bastaria uma coleta semanal. O custo não passaria de R$ 30 mil, incluindo o financiamento de bolsas de mestrado e o aluguel de barcos. É irrisório para um benefício tão grande ? disse Valentin.

Excelência

O pesquisador lembra que há projetos de excelência atuando no país, como o Projeto Laplata ? que estuda os mecanismos físicos que influenciam o processo biológico nos oceanos ? e o Programa Goos Brasil, componente brasileiro do Sistema Global de Observação dos Oceanos (Goos). Mas nenhum deles faz coleta de plâncton.

? No Atlântico Norte temos uma realidade diferente. Quando consultamos a base de dados global do governo norte-americano sobre plâncton, vemos claramente que estamos carentes de informação sobre o Atlântico Sul ? comentou o cientista.