Agricultura brasileira passa por um processo preocupante com falta de planejamento estratégico, diz ex-ministro

Alysson Paulinelli ministrou palestra sobre perspectivas para o setor agropecuário durante a FeicorteO ex-ministro professor Alysson Paulinelli participou nesta quarta, dia 13, doFórum Feicorte, em São Paulo (SP). O discurso, com o tema "Lições históricas e perspectivas para a agropecuária brasileira", iniciou com a afirmação de que a agricultura brasileira está passando por um processo preocupante. Segundo ele, se vive no Brasil uma falta de planejamento estratégico. Paulinelli relembrou ainda fatos históricos que ilustram a atual situação do país.

– O Brasil sempre teve competência no setor rural. Se não fossem os produtos tropicais, o Brasil não teria o impulso que teve. O café, por exemplo, exerceu por muito tempo o papel que o agronegócio exerce hoje. Chegamos a dominar 80% do mercado internacional quando o café foi descoberto. A mesma coisa ocorreu com a borracha nos períodos de guerra. No cacau nunca fomos excepcionais, os países africanos sempre estiveram à nossa frente. E até hoje a madeira, como o pau-brasil antigamente, continua tendo uma influência grande no mercado brasileiro – afirmou.

Paulinelli apontou também que em 1930, quando Getúlio Vargas falou pela primeira vez em planejamento estratégico, começou-se a enxergar que era necessário desenvolver o país. Já começava naquela época a chamada agricultura de região temperada. Conforme o relato, na Europa, quando encerrava o período da neve, o solo se apresentava mais forte, havia uma explosão biológica, onde se produzia mais.

– Enquanto houvesse região temperada para se usar, ela seria a preferida. Quando Getúlio, em 30, resolveu fazer o plano industrial, o país importava tudo, éramos dependentes, à exceção da indústria siderúrgica, as indústrias brasileiras eram altamente deficientes. O que se fazia nessa época era utilizar o lucro do setor rural e colocá-lo no industrial.

De acordo com o ex-ministro, o governo de Juscelino Kubitscheck acordou os brasileiros.

– Ele não acabou com a economia brasileira como muitos dizem. Ele manteve o café sem quedas durante cinco anos. A positividade das ações de Juscelino lhe deu a oportunidade de investir em outros projetos, como, por exemplo, a construção de Brasília. Ele mobilizou a economia brasileira e fez com que o brasileiro acreditasse em si.

Ele acrescentou que, em 1968, houve um tumulto no mercado internacional, uma vez que devido à Guerra Fria, os Estados Unidos não tinham mercadoria estocada o suficiente para os próximos seis meses. Dessa forma, a mercadoria que o Brasil importava, segundo Paulinelli, teve um considerável aumento de preço. Ele apontou que país comprava o alimento mais caro do mundo “por falta organização”.

– A renda familiar sonhada por Juscelino e Getúlio gastava mais de 40% com alimentação. A família que foi estimulada a sair da roça para a cidade, não estava conseguindo viver a industrialização. O drama brasileiro era que o mundo se desenvolveu no hemisfério temperado. Tivemos que importar máquinas, tecnologia. A região tropical não tinha um conhecimento técnico para o cultivo.

O professor afirma também que o Brasil segue vivendo “uma falta de planejamento”.

– Estamos vivendo uma ausência total de pragmatismo de planejamento estratégico. Nós temos que criar a nossa tecnologia. Precisamos que o Brasil tenha conhecimento próprio. Precisamos juntar a tecnologia com a experiência, com os conhecimentos para saber como sanar os miomas brasileiros. Precisamos desenvolver a nossa pesquisa, nos integrar e nos mobilizar para vencermos os desafios – pontua.