Agropecuária terá mais crédito no próximo governo, afirma ministro

Wagner Rossi diz que escassez de recursos foi responsável pelo abate de matrizes do gado bovino em 2005A reestruturação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) deverá envolver medidas de médio e longo prazos, incluindo "mais oferta de crédito para a agropecuária", como ocorre na área agrícola. A afirmação foi feita nesta segunda, dia 13, pelo ministro Wagner Rossi, confirmado na pasta pela presidenta eleita, Dilma Rousseff.

Segundo Rossi, a escassez de crédito foi responsável pelo abate de matrizes do gado bovino em 2005, cujos efeitos estão sendo sentidos agora, com o aumento do preço da carne.

Em entrevista, ele disse que o Ministério da Agricultura deve também compatibilizar a política de importação de produtos agrícolas com a produção interna, só comprando do Exterior quando tiver necessidade na entressafra. Inicialmente, é o que será feito com o trigo.

? Nós estamos avançando em novas ideias para proteger o produtor brasileiro, sem perder a parceria com os nossos fornecedores tradicionais. Primeiro, a garantia da compra com de volumes adequados de trigo do Mercosul e Argentina. Segundo, que esse trigo venha nos momentos que nós mais precisamos dele e não num momento em que, ao contrário de nos ajudar, tumultua o processo do mercado, porque os produtores brasileiros precisam vender o seu produto naquele momento ? afirmou.

O ministro explicou que atualmente há dificuldades burocráticas que atravancam os processos de aprovação de produtos e liberação de certificações.

? É uma série de limitações que precisam ser eliminadas ? avaliou.

Rossi garantiu que, nesse processo de modernização da pasta, haverá resposta para “uma reclamação permanente” dos produtores sobre o tempo que leva para o registro de produtos, e a redução de problemas na área da certificação, com a diminuição da burocracia.

? Um tema atualíssimo, que agrega valor ? afirmou.

O ministro ressaltou que a agricultura convive, em diversas áreas, com situações que levam de oito a dez anos para serem resolvidas. Ao anunciar a realização de um diagnóstico global para revisão de normas, processos, fluxos, ele disse que a imprensa poderá ajudar muito com sugestões.

Rossi citou a criação do Fundo Catástrofe, por decreto presidencial, entre as medidas que deram mais segurança aos produtores.

? Foi uma iniciativa paralela à política em vigor de garantia de preço mínimo e ao seguro agrícola, que barateou o custo do seguro para os produtores, pois as seguradoras não precisam cobrir prejuízos nessas situações.

As estatais ligadas à pasta, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), poderão ser afetadas pela política de reformulação do Ministério. No entanto, disse Rossi, “elas têm capacidade de resposta e de adaptação mais rápida para conciliar problemas na sua área” e não estão “tão defasadas” quanto o Ministério.

Na entrevista, o ministro comentou também o texto do novo Código Florestal, que está em tramitação na Câmara. Rossi dá “nota 10” ao relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), mas ressalta que o texto ainda pode sofrer alterações. Para ele, o código não será votado neste ano, devendo entrar, em regime de urgência, no início dos trabalhos legislativos em 2011.

? O trabalho do deputado Aldo Rebelo, ao ser relator do projeto do novo código, foi excelente, equilibrado e um avanço, porque ele se baseou num critério importante: a realidade. Mas sempre há margem para pequenos ajustes, aperfeiçoamentos. Eu tenho a expectativa que o Congresso seja capaz de considerar alguns pontos que estão sendo levantados por outras correntes de opinião, que merecem todo o nosso respeito e, com isso, possa ainda se aperfeiçoar nas votações, na Câmara e no Senado, o projeto como ele está neste momento ? disse.

De acordo com o ministro, o texto não favorece aumento do desmatamento, nem a redução da área dos biomas, e dá segurança jurídica ao produtor, com  mudanças compatíveis com a realidade, para aumento da produção de alimentos com a preservação do meio ambiente.

Em relação aos índices de produtividade, o ministro se diz resistente a esta ideia.
? Na verdade, quem deve definir o que, como e quando o produtor brasileiro vai produzir é o mercado, a visão que ele tem de oportunidades de negócios, perspectivas de preços, demanda do mercado interno e internacional e não um ato autoritário de cima para baixo, dizendo se tem que produzir com tais índices de produtividade. Não é assim que se faz. Se você obrigar o produtor a produzir mais um determinado produto que esteja dando prejuízo, você está condenando aquele produtor a quebrar e não é assim que funciona a economia. Quem pretende esse tipo de imposição está pensando no Brasil 30 anos atrás, quando havia necessidade de um mecanismo como este ? avaliou Rossi, se referindo a quando não havia terras disponíveis para reforma agrária.

Quando fala sobre a balança comercial, Wagner Rossi é otimista.

? Devemos superar os 60 bilhões de superávit na balança do Agronegócio, e isso mostra que o Brasil hoje depende da sua agricultura para o avanço econômico significativo ? concluiu o ministro da Agricultura.