• Saiba o que é e como surgiu o Mal da Vaca Louca
As investigações de campo indicam se tratar de uma única suspeita de caso atípico de EEB, ocorrido em uma fazenda em Porto Esperidião, no sudoeste de Mato Grosso, próximo à fronteira com a Bolívia. Em 2012, no Paraná, o caso fez com que 16 países embargassem a carne bovina brasileira.
Na noite desta quinta, dia 24, as principais entidades do setor em Mato Grosso estiveram reunidas em Cuiabá para tratar do caso. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, diz que o caso foi detectado em março deste ano e que todas as providências para a confirmação foram tomadas.
– O problema foi detectado meados de março, houve abate sanitário da rês, foi coletado todo o material par exames e enviado para a Inglaterra – explica Prado.
Os primeiros testes com o material coletado foram realizados em um laboratório nacional agropecuário, que detectou a marcação priônica, ou seja, o sinal de que o animal poderia estar contaminado com o Mal da Vaca Louca. As amostras foram então enviadas ao laboratório de referência internacional da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), em Weybridge, na Inglaterra, para confirmação da suspeita. Os resultados são esperados para o dia 30, próxima quarta-feira.
– Nós temos que aguardar os resultados laboratoriais e ver quais procedimentos precisam ser feitos. Qualquer ocorrido no mercado é especulação – aponta Prado.
O presidente da Famato diz, ainda que não acredita que o caso tenha alguma relação com o fato da fazenda ser localizada próxima à fronteira com a Bolívia.
Mercado precisa de cautela
Para o diretor de sanidade animal do Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC), Sebastião Guedes, cautela e responsabilidade são essenciais em casos como este. Segundo ele, diante da notificação, foram adotados todos os procedimentos padrões determinados pelos acordos internacionais da OIE. Do mesmo modo que Rui Prado, Guedes diz que o mercado não tem elementos concretos para reagir à notícia.
– Nós temos que aguardar os resultados dos exames que foram enviados para a Europa. Fora disso, é especulação – diz Guedes.
O diretor de sanidade do CNPC diz ainda que não acredito que o caso em análise seja confirmado como mal da vaca louca.
– O pecuarista em questão não comprou animais de fora, o rebanho aparentemente é bem controlado, alimentado a pasto. Volto a dizer, é especulação – reitera Guedes.
De acordo com ele, há outras explicações possíveis para a morte do animal, que podem ser confundidas com a EEB. Ele diz que o animal pode ter tido um acidente vascular cerebral, uma doença nervosa que aparenta os mesmos sintomas da encefalopatia espongiforme mas ter outra origem, um tumor cerebral e até mesmo o consumo de plantas tóxicas e outras infecções.
– Interesse à saúde do rebanho e do mercado brasileiro que a suspeita seja esclarecida. Mas não vamos nos precipitar aos fatos.
Ainda assim, o mercado reagiu à notícia. Na quarta, dia 23, a arroba do boi gordo no mercado futuro caiu R$ 1. Contudo, o mercado fechou esta quinta com recuperação nos preços para os patamares anteriores à divulgação da notícia. Ainda assim, o caso pode ter repercussões no mercado futuro mesmo antes da confirmação.
– O evento é muito ruim. Mato Grosso é um Estado muito importante, tem o maior rebanho, o maior abate, é o maior exportador. Enquanto não vem a confirmação ou não, o mercado fica muito volátil. O mercado opera baseado em achismo, isso é uma volatilidade adicional – diz Leandro Bovo, do Banco do Espírito Santo.
Precipitação
Para o presidente da Scot Consultoria, Alcides Torres, a divulgação do caso foi precipitada. Ele criticou o governo por ter divulgado o caso antes da confirmação dos resultados vinda do laboratório inglês.
– A pecuária brasileira se esforça para ter um produto a toda prova. Um órgão de governo só deveria divulgar uma coisa dessas depois de confirmado ou não. Uma notícia dessas, divulgada de forma precipitadamente até, pode fazer com que o mercado seja atingido. Pode interromper uma expectativa de alta de preços, um fluxo de exportação de carne, o trafego de bovinos entre Estados. As consequências são danosas e muito caras – criticou Torres.
O presidente da Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Francisco Maia, concorda que a notícia vem em um mau momento.
– Todos os nossos processos de criação, muito baseados na pecuária extensiva, dificultam o aparecimento destes casos. Acredito mais em guerra mercadológica – diz Maia.
O caso é considerado atípico porque o animal foi criado exclusivamente em sistema extensivo (a pasto e sal mineral) e foi abatido em idade avançada, com cerca de 12 anos de idade. Essas são as principais características de um caso atípico de EEB, pois ocorre de forma esporádica e espontânea, não relacionada à ingestão de alimentos contaminados.
O Ministério da Agricultura informou que os produtos derivados desse bovino não ingressaram na cadeia de alimentação humana ou animal e o material de risco foi incinerado. Por precaução, todos os animais contemporâneos ao caso provável foram identificados individualmente e interditados. Até o momento, está descartada a possibilidade de contaminação do restante do rebanho e de epidemia da doença.