A Anvisa conseguiu completar a análise de apenas dois princípios ativos em 2008, antes da liminar da Justiça. Um deles é o acefato, usado em diversas culturas, como o algodão, e suspeito de ter ação cancerígena. Mas a agência foi impedida pela Justiça de divulgar os resultados. O outro é a cihexatina, utilizado em plantações de laranja. Estudos mostram risco de má formação do feto em testes realizados com ratos. Segundo a gerente de avaliação da Anvisa, Letícia Rodrigues, a agência proibiu o uso da substância, mas a fabricante recorreu na Justiça e conseguiu impedir a restrição.
? Nós iniciamos a reavaliação dela e o encaminhamento que a gente está dando é que ela seja proibida no país em função de ter outros agrotóxicos que podem ser utilizados para aqueles alvos que ela controla e para aquelas culturas e em função da toxicidade reprodutiva, e ainda a cihexatina já está proibida em vários países do mundo ? explica Letícia.
Com a liminar do Sindicato de Produtos para defesa Agrícola, a agência ficou quase todo o ano de 2008 sem continuar o trabalho. Apenas em novembro conseguiu derrubar a decisão, e a expectativa agora é que os novos laudos sejam concluídos no primeiro semestre de 2009.
Na lista dos agrotóxicos sob suspeita, estão também o endossulfan, usado em lavouras de algodão, café, cacau e soja, que pode trazer problemas ao sistema endócrino e reprodutivo. O metamidofós, utilizado nas plantações de alface e tomate, e que pode causar danos respiratórios e hipertensão. O paraquate, destinado a diversas culturas, como o abacate, e que é suspeito de alta toxicidade. E o paration metílico, usado em muitas lavouras, como o trigo, e que pode trazer má formação fetal.
O Ministério da Agricultura alerta que qualquer restrição deve ser tomada com muito cuidado. O coordenador de agrotóxicos, Luís Rangel, explica que a cihexatina, por exemplo, é muito eficaz no combate ao ácaro da leprose na citricultura, e que ainda não há outro produto semelhante. Ele acha que, para retirar algum agrotóxico do mercado, é preciso saber se existe um substituto que mantenha a competitividade e a sustentabilidade da agricultura.
? O que a gente espera é que todos os aspectos sejam esgotados antes da tomada de decisão final, porque é um risco abandonar uma tecnologia consagrada no uso de agrotóxico, que pode ser muito danosa do ponto de vista econômico para o agricultor ? disse Rangel.
O governo ressalta também que os agrotóxicos novos, que substituiriam os que estão em análise, podem ser até 70% mais caros, o que elevaria ainda mais os custos de produção.