O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, afirmou que houve “falha de comunicação” na divulgação dos resultados da operação Carne Fraca, que investiga 21 frigoríficos do País por suspeita de venda irregular de carne. A ação, que cumpriu mais de 30 mandados de prisão e mais de uma centena de busca e apreensão, foi divulgada como a maior da história da Polícia Federal.
“A operação foi necessária, havia corrupção, servidores públicos envolvidos e alguns frigoríficos. Havia crime e a investigação aconteceu. Ao final, a nota da PF diz que foi a maior operação da história. Por causa do quê? Do número de mandados. Só que você dizer que é a maior, envolve uma série de variáveis com importância, repercussão econômica e social. Ao dizer que é a maior, dá uma dimensão muito grande, que talvez tenha gerado essa interpretação de que aqueles fatos eram um problema sistêmico de todo o mercado produtivo brasileiro”, afirmou Sobral.
O delegado considerou que, apesar de a investigação ter durado dois anos, não significa que a saúde dos consumidores tenha sido colocada em risco. “Eu não tenho detalhes da investigação. Do que eu vi, quando havia risco de um produto chegar ao consumidor, algumas medidas eram acionadas para evitar isso. Você continua com a investigação, mas não permite que a saúde seja prejudicada. É algo comum numa investigação dessa envergadura.”Desde segunda-feira, a ADPF realiza o VII Congresso Nacional dos Delegados de Polícia Federal, em Florianópolis. Cerca de 400 policiais federais participam do evento, que vai até quinta-feira, dia 23.
Renan sobe o tom contra a PF
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), subiu o tom contra a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) nesta terça-feira, dia 21. Em discurso no plenário da Casa, Renan afirmou que a Operação Carne Fraca “explicita o fato de não termos mais limite para nada” no Brasil.
O peemedebista disse que o Senado tem que “colocar uma resistência” contra este tipo de ação e o Supremo Tribunal Federal (STF) deve “fazer a sua parte”. Renan avaliou que a Operação Carne Fraca, que investiga corrupção de agentes do Ministério da Agricultura e apontou esquema de venda de carne ilegal, foi desproporcional.
“Como em função de desvio de função, em função de corrupção de servidor público, você mobiliza neste país, em um momento de dificuldade, mil policiais da Polícia Federal?”, questionou. Fazendo referência aos responsáveis pelas operações, Renan disse que “esse pessoal, mais do que nunca, está demonstrando que vai forçando a barra, forçando a barra e não há mais limite constitucional”.
“Como é que pode, senhor Presidente, o Ministério Público chegar ao cúmulo de fazer vazamentos e dizer que esse vazamento que se fez e que expôs pessoas ao noticiário é um vazamento em off? Isso é uma confissão de abuso de autoridade, e o país tem fechado os olhos para isso. Nós não podemos concordar com isso. Concordar com isso é desfazer o juramento de que nós íamos proteger, defender e nos guiar pela Constituição Federal”, declarou o senador.
Renan reclamou que os senadores têm sido impedidos de votar projetos que considera importantes, como o que atualiza a lei de abuso de autoridade, por serem constantemente acusados de tentar atrapalhar as investigações. “O domínio das corporações para além da nossa Constituição já não tem limite. E os argumentos são os mesmos. Aqui, quando nós ficamos contra o supersalário com dinheiro público, disseram: ‘Isso aí é contra a Lava Jato’. Quando nós exigimos a votação do abuso de autoridade, disseram: ‘Isso aí é contra a Lava Jato’. (…) Até a lista para candidatos, que é uma matéria polêmica, serviu de argumentos para editorial de jornais de que também a lista era contra a Lava Jato. Este país está emburrecendo”, afirmou Renan.