A certeza é de que novos postos de trabalho não serão criados pelas exportadoras, e a saída para manter os empregos é aumentar as vendas no mercado nacional. A coleção de verão já é contada como perdida. São 3,5 milhões de pares estocados que deveriam estar nas lojas do país vizinho.
Depois de perder o Dia das Mães, comemorado na Argentina no terceiro domingo de outubro, o Natal, outra data com forte apelo comercial, não deve trazer novos pedidos. O calçado, que estaria nos pés dos argentinos e que não chegam ao país por entraves burocráticos, ocuparia as vitrinas do final de ano. Isso, se as liberações ocorrerem em tempo.
Rombo pode chegar a US$ 100 milhões
Considerado o principal comprador de muitos exportadores brasileiros, a Argentina pode causar um rombo de US$ 100 milhões para o setor calçadista. A conta é da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), e tem tirado o sono dos empresários. Prejuízos com pedidos cancelados podem atingir US$ 40 milhões, e US$ 60 milhões referem-se a pedidos que sequer foram feitos.
? Grande parte desse calçado seria vendido para o Dia das Mães [data é comemorada em outubro na Argentina], no último domingo. Esse seria o momento em que se fariam reposições para o final de ano. A questão é que ninguém vai fazer pedido agora, se nem sequer recebeu o que pediu seis meses atrás ? diz o diretor executivo da Abicalçados, Heitor Klein.
Problema que pode ser agravado na coleção de inverno. Os distribuidores deveriam começar agora a venda dos novos modelos para a estação fria. No entanto, afirmam que fica difícil conseguir novos pedidos depois de meses em que os lojistas argentinos ficaram sem produtos brasileiros.
? Parte das vendas serão direcionadas para o mercado interno, mas não existe como o Brasil absorver essa demanda da noite para o dia. O resultado pode ser a diminuição na produção ? afirma a diretora de exportação da Piccadilly, Micheline Grings Twigger.
Por meio de nota, o Ministério do Desenvolvimento informou manter contato com o Ministério da Indústria da Argentina “para solucionar eventuais entraves ao fluxo comercial”.
Esperança de melhoria após eleição
Um dos fatores que podem facilitar a liberação do calçado brasileiro é o fim do período eleitoral na Argentina. As eleições presidenciais serão realizadas neste domingo, dia 23, e os empresários acreditam que a decisão de liberar as licenças seja tomada em seguida.
? Estive com o nosso distribuidor e ele afirmou que todos acreditam em uma definição depois das eleições. Eles veem isso como uma ferramenta de proteção das indústrias locais ? conta o diretor para mercados internacionais do Grupo Priority, Eduardo Smaniotto.
A Abicalçados também monitora a situação, e espera que a provável reeleição de Cristina Kirchner, que lidera as pesquisas, facilite o fim da demora nas liberações das licenças.
? Apenas não sei se isso acontecerá em tempo de evitar prejuízos ainda maiores ? afirma o diretor executivo da Abicalçados, Heitor Klein.