Aumento de consumo de pescado deve aquecer mercado

Brasil quer se tornar um dos cinco maiores produtores de pescado em cativeiro do mundoO Brasil quer se tornar um dos cinco maiores produtores de pescado em cativeiro do mundo. Para atingir esta meta, em alguns Estados os aquicultores contam com o apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Porém, é o aumento do consumo que promete aquecer bastante o mercado nos próximos anos.

A unidade de observação que serve de exemplo para os aquicultores da serra gaúcha tem sete anos. Surgiu quando o piscicultor Nelson José Sidegum se dispôs a aumentar os investimentos na atividade. Até 2004, ele só produzia peixes para o consumo da família e os açudes serviam para o lazer.

? Antes eu só tinha dois açudes. Aí fiz no meio mais um, vi que deu resultado e fui adiante, comecei a investir e estou a fim de investir mais ainda, tenho projeto de fazer outro agora. Quero aumentar, aí já tem sempre peixe todos os dias e posso vender ali em casa mesmo. Assim é só uma vez por ano, mas está dando resultado bom ? diz Sidegum.

O agricultor passou a utilizar as técnicas corretas de manejo. Contou com a assistência técnica da Emater e hoje a atividade responde por 35% da renda. A produtividade média por açude é de 450 peixes.

? E isso é relacionado à nossa orientação sobre a quantidade de peixes a ser colocada, espécies a ser colocadas, já que se trabalha com policultivo de carpas, em que vai quatro carpas em cada açude. Até para o aproveitamento melhor da água, do açude como um todo, em função de seus hábitos alimentares, que é diferenciado de uma pra outra ? diz o extensionista da Emater, Claudionir Fernandes da Rosa Ávila.

A alimentação é orgânica: à base de pasto e plânctons. Esses organismos se formam a partir da decomposição de dejetos que o produtor coloca nos açudes. Também se utiliza ração, mas em uma proporção menor. O aquicultor considera a atividade segura. Nunca teve prejuízos com estiagem nem com temporais. E a rotina é muito simples.

? Não dá muito trabalho. Enquanto que os outros vão na bodega eu me dedico nisso ali e trato os peixes, tiro um lucro que os outros estão gastando ? completa Sidegum.

O piscicultor seca um açude por ano para vender os peixes na Semana Santa. É nesse período que são comercializados 70% da produção regional. Porém, o consumo tem aumentado também em outras épocas do ano.

Em 2010, foram vendidas 606 toneladas só nas feiras do peixe da região de Porto Alegre, que abrange 60 municípios. A quantidade comercializada nesses eventos dobrou na última década. Atualmente, cada brasileiro consome em média nove quilos de pescado ao ano, e a previsão é de que em 2015 esse número chegue a 12 quilos.

E são esses dois fatores: o aumento do consumo e a disposição dos agricultores em investir na atividade que podem colocar o Brasil entre os cinco maiores produtores mundiais de pescado em cativeiro. Para deixar a décima oitava posição, o país precisa dobrar a produção que fechou o ano passado em 500 mil toneladas.

? O que falta ainda é uma política pública específica para trabalhar essa demanda. Existe um projeto de aquisição de alevinos, que é através dos escritórios municipais há a intermediação na aquisição dos alevinos de um produtor de alevinos com registro, para os agricultores familiares ? diz o extensionista da Emater Deise Wickert.
 
Segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura, existem linhas de crédito específicas e programas nos quais esses produtores podem ser enquadrados. O maior desafio é resolver a burocracia referente ao licenciamento ambiental e à cessão de água da União, que impede o acesso aos benefícios.

? O licenciamento ambiental tanto serve para águas da União quanto para as que não são da União. Seve para todas as atividades da aquicultura: peixe, camarão, mexilhão. Existe uma resolução do Conama, de 2009, que simplifica isso. Mas precisa fazer essa resolução chegar aos órgãos estaduais de meio ambiente, que estão dispostos a ajudar. Aí nós desenrolamos os dois grandes gargalos da aquicultura no Brasi ? diz o secretário de Planejamento e Ordenamento do Ministério da Pesca, Felipe Matias.