Em uma fazenda localizada em Charqueadas, no Rio Grande do Sul, muita coisa mudou. As 160 novilhas estão prenhas e precisam de cuidados especiais. Neste inverno, o campo nativo foi semeado com azevém para garantir uma boa pastagem durante os meses de frio. Já os funcionários, realizam cursos de capacitação.
? Fizemos um curso de manejo de bovinos de corte. Pegamos a área de pastagem e calculamos a quantidade de animal que se pode ter por hectare, de acordo com a altura da pastagem e o tempo. Então vamos verificar se dá para passar o inverno ou se vamos deixar só 30 dias pra calcular a lotação na área, sempre pensando no animal ? explica o funcionário André Felipe Vieira.
Os 500 terneiros que acabam de desmamar são alimentados com silagem de milho. Eles comem de manhã, ao meio-dia, e se ficar muito frio, recebem mais uma refeição à tarde. A suplementação ajuda no ganho de peso ideal. As ferramentas pontudas que eram usadas para tocar o rebanho foram abolidas e deram lugar a simpáticas bandeiras.
? Uma outra coisa também que foi eliminada foi a utilização de cachorros, a não ser a nível de invernada, mas na mangueira não se usa mais. Os animais poderiam ser classificados nos que caçam e os que são caçados. Os bovinos, como as ovelhas e outros animais, eles são de caça. Já os animais que são vítimas dos caçadores, eles tem os olhos localizados mais lateralmente na caixa craniana, então a visão deles é muito mais ampla e menos dirigida. Então o que nós fizemos aqui, após ouvir algumas palestras sobre bem-estar animal, nós fechamos os listões da mangueira, do corro e do brete porque com isso facilita o manejo dos animais ? relata o pecuarista Henrique Orlandi.
A técnica permite que o rebanho tenha a vista projetada para frente, escurecendo as laterais. Assim como a visão, a audição do gado é mais aguçada que a dos humanos. Por este motivo, os cachorros foram extintos das práticas. Assim, os latidos não estressam o gado.
Em junho de 2006, um importante documento foi criado para estabelecer critérios de proteção animal, em todo o mundo. É a Declaração Universal de Bem-estar Animal que define regras básicas de bem-estar, reconhecendo os animais como seres que tem sentimentos.
O animal deve ser livre de fome, de sede, de desconforto, dor, lesões ou doenças. Deve ainda poder expressar os comportamentos normais e ser isento de medo e aflição. A comissão interna criada pelo Ministério da Agricultura vai coordenar as ações de bem-estar praticadas no país. Para isso, cada superintendência estadual terá um foco a ser trabalhado.
? A gente entende que muitas vezes além do conceito dos princípios de bem-estar animal chegar distorcido ao produtor, existe sim uma ignorância do que é o bem-estar animal, então isso vai facilitar nesse ponto, essa descentralização nos Estados pra realmente chegar pro produtor rural o que esses princípios podem trazer de retorno econômico pra ele ? explica a coordenadora da Comissão Técnica Permanente de Bem-Estar Animal (CTBEA), Andrea Parrilla.
De acordo com a comissão, ao intensificar as práticas de qualidade de vida dos animais de produção, o país está também se preparando para atender aos critérios do mercado exterior.
? Mercados mais exigentes têm legislações restritas pra bem-estar animal, inclusive um mercado importante pro Brasil, que é a União Européia, tem legislações específicas e a gente entende que futuramente isso vai ser cobrado do Brasil pra exportações ? conclui.