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Mato Grosso

Acrimat: 'O pecuarista está pagando para trabalhar'

De acordo com o presidente da entidade, Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior, criadores em Mato Grosso demonstram ainda preocupação quanto a segurança jurídica

Detentor do maior rebanho bovino brasileiro com mais de 33 milhões de cabeças, Mato Grosso vê sua pecuária enfrentar dificuldades. Segundo o setor produtivo, confinamentos chegam a registrar prejuízo de até R$ 1 mil por animal.

Reconduzido como presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) por mais três anos, Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior pontua que a pecuária é uma atividade de longo prazo e que são muitos os desafios durante todo o processo, desde o planejamento da inseminação dos animais até a entrega para a indústria.

Em entrevista ao Canal Rural Mato Grosso, Ribeiro Júnior salienta que, além da situação econômica, o produtor mato-grossense também está preocupado com a sua segurança jurídica e em atender às demandas relacionadas à sustentabilidade.

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Gado abate bovino
Foto: Embrapa Territorial

Confirma a entrevista com o presidente da Acrimat:

Canal Rural Mato Grosso: O ano de 2023 começou. O que o setor da pecuária está esperando para este ano? Quais são os desafios e o que precisa ser solucionado, destravado de âmbito federal e estadual no setor?

Ribeiro Júnior  – O problema hoje que mais nos aflige, principalmente, é o econômico. Corrigir o preço da arroba que está muito baixo, muito aquém do preço de custo. Hoje, o pecuarista está pagando para trabalhar. Alguns confinamentos estão levando prejuízo de R$ 700 a R$ 1 mil por animal. Então, esse é um tema que nos aflige.

Fora o financeiro, o econômico, que é muito importante, porque é um setor de investimento e de processo longo, nós temos os desafios dos novos governos. O governo federal com nova política, um novo ministro. A preocupação nossa é no sentido da segurança jurídica. Nós temos muita preocupação, pois temos muitos pequenos e médios produtores que não possuem muito recurso, não tem advogado, não tem muito acesso as leis. Precisamos olhar isso com carinho.

Além disso, temos as invasões as quais estamos preocupados. Prometeram que agora irá ocorrer invasões e irão ficar mais livres, mais soltos. Então, a nossa preocupação é condições de proteger para não ocorrer isso. Nós queremos ouvir do ministro [da Agricultura, Pecuária e Abastecimento] o que ele está pensando sobre isso.

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Com relação ao governo estadual ele renovou a taxa do Fethab. A gente esperava que não renovasse, mas de qualquer modo ele se comprometeu investir quase 90% em infraestrutura. Isso para a gente é bom. Investir também na defesa sanitária. Então, vai olhar com mais carinho para o produtor, as estradas, nossas demandas.

Os desafios são ambientais, nós temos o novo marco temporal que será votado e que está lá no Supremo, então grandes problemas podem ocorrer e que podem mudar toda a nossa perspectiva, mudar muito a insegurança das pessoas em investir em suas terras e que de repente vira terra indígena, uma coisa que você não estava contando e tem de mudar todo o seu planejamento.

Como eu disse, a pecuária é uma coisa de ciclo longo, então não tem como especular e em quatro, cinco meses mudar o ciclo.

Foto: Imac

Canal Rural Mato Grosso: O senhor comentou sobre a questão do preço da arroba em relação ao custo de produção. Hoje, qual seria o preço ideal da arroba em Mato Grosso para cobrir os custos?

Ribeiro Júnior  – Nossos preços voltaram para os preços de dois anos atrás e nossos custos subiram 50%. Quer dizer, o preço da arroba de dois anos atrás, até um pouco menos de dois anos, se a gente voltasse aos preços de R$ 310, R$ 320, que é o preço do boi China. Hoje, a gente está recebendo R$ 230, R$ 240 o preço da arroba e os custos subiram com a Guerra do Ucrânia e Rússia, demanda mundial por energia e grãos. Teve muita demanda de grãos no mundo inteiro, a China está importando mais milho, isso tira do nosso mercado e isso aumenta os nossos preços. O DDG de milho, um subproduto do etanol, também encareceu. A pandemia já vinha atrapalhando. A gente saindo dela e vem uma guerra e o negócio complicou.

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Canal Rural Mato Grosso: O recuo do preço da arroba é decorrente à fatores de baixo consumo?

Ribeiro Júnior  – Com certeza. Os frigoríficos que não possuem operação China estão enfrentando uma dificuldade muito grande, pois eles nos falam que o mercado interno está sofrendo muito. A demanda de consumo interno abaixou muito. O consumo de carne bovina foi muito baixo em 2022 e tende a baixar. A população está buscando outros tipos de proteínas mais em conta. A população gosta de comer a carne na verdade.

Os preços da nossa arroba baixaram muito, mas o preço da carne no varejo não baixo significativamente. Quer dizer, independente da vontade do produtor, porque a gente gostaria que esses preços baixassem também, mas o mercado varejista tem suas margens, os seus custos e eles alegam que não há como baixar os preços.

Então, o consumo vai cada vez mais caindo e a gente vai tendo dificuldades nesse mercado interno. Se a condição econômica da população melhorasse um pouquinho, poderia sair um pouco mais. Aumentar 10%, 20% de consumo melhoraria muito.

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Abertura de mercado e melhoria no poder aquisitivo do brasileiro são algumas saídas para a situação da pecuária. Foto: Wenderson Araujo/Trilux/CNA

Canal Rural Mato Grosso: Na questão logística nós temos o Fethab, o qual passará a ter destinação de 80% para infraestrutura. Para a pecuária em termos de logística qual é o maior problema e o que precisaria ser feito para melhorar?

Ribeiro Júnior  – Além da pecuária de corte, temos a pecuária leiteira. As áreas de pecuária leiteira sofrem muito com essas estradas, pontes, principalmente nesta época de chuvas que vai até março, abril. E, o nosso produto tem que sair. Se um caminhão quebra na estrada fica 24 horas, 36 horas para sair do atoleiro, de uma ponte quebrada, esses animais vão sofrer e o leite vai estragar. Isso leva a falta de alimentos na cidade, aumenta os nossos custos. Para cidade é ruim.

As maiores demandas hoje são para essas áreas que são mais de bacia leiteira e estradas vicinais, em especial nesta época de chuvas.

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Canal Rural Mato Grosso: E como está a indústria mato-grossense?

Ribeiro Júnior  – A indústria está sofrendo bastante. O Sindifrigo-MT alega que os que não possuem operação no exterior [exportam], operação China, Estados Unidos, que são grandes compradores, estão sofrendo bastante porque o consumo baixou muito. Eles falam que os freezers estão lotados e a agenda para abater animais, ou seja, a escala, está muito longa. É a agenda quem determina o valor da arroba. Se a agenda é longa o preço vai lá embaixo. Há escala de quase um mês. É um quadro preocupante neste momento.

Agenda de abate está longa, diz presidente da Acrimat . Foto: Ministério da Agricultura

Canal Rural Mato Grosso: Essa situação que estamos vendo do consumo mais retraído pode impactar na hora em que entrar o período do confinamento?

Ribeiro Júnior  – Baixa os preços de confinamento também, porque eles não têm o preço do boi China, que seria necessário para pagar os custos. Estão sofrendo bastante. Alguns relatam prejuízo de R$ 1 mil por animal. É um quadro ao qual a gente fica com pena. Um quadro que desestimula os investimentos, desestimula novos confinamentos, colocar mais animais. Hoje, a procura para o consumo interno está muito ruim e os preços baixos para consumo externo para a gente muito baixo.

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Canal Rural Mato Grosso: O que seria ideal para melhorar esse cenário no curto e médio prazo para o produtor? Seria aumentar o consumo interno, ampliar o número de mercados?

Ribeiro Júnior  – Sim! A abertura de mercados, que os frigoríficos pequenos consigam liberar os seus estoques, principalmente no mercado interno. Nós fizemos uma reunião com a Sefaz-MT para ver se havia alguma distorção nesse ganho, para saber quem estava ganhando. Se era o produtor, o frigorífico ou se era o varejo. Por cima, viu-se que o produtor com certeza está perdendo, o frigorífico está empatando hoje, a não ser aqueles que muita operação internacional, e o que está com um pouco mais de vantagem é o varejo, que também está tendo que fazer suas promoções para desovar o seu estoque devido ao consumo que baixou.

A necessidade à médio e longo prazo seria que aumentasse o consumo interno e para isso têm políticas de governo, políticas nacionais que aumentassem a possibilidade de ganho da população. Mas, hoje, à curto prazo o que se pode fazer é tentar baixar esses preços e poder começar a circular um pouco mais o produto e renovar, os frigoríficos poderem trabalhar e a gente produzir com qualidade.

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Foto: Associação dos Criadores de Nelore de Mato Grosso

Canal Rural Mato Grosso: Em 2022, Mato Grosso realizou a última campanha da vacinação contra a febre aftosa. Quais são as perspectivas daqui para a frente?

Ribeiro Júnior  – Essa é uma demanda do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), porque toda vez que ele vai negociar com países, por exemplo, como Japão, exigem status sem vacinação. Com o produtor não teríamos muita preocupação, mas como é uma demanda do Mapa, que precisa ter esses mercados e sempre tem que estar abrindo mercado, precisaria ter essa retirada da vacinação.

Eles também nos alegaram, fizemos centenas de reuniões, que não há vírus circulante. Por isso que a gente fica tranquilo.

Então, a perspectiva hoje é que a defesa sanitária fique mais alerta, que venha verba para eles fazerem as ações necessárias e que não foram feitas todas ainda, ainda há o que se fazer, e o produtor por sua parte alertar qualquer problema que venha a ter. Há produtor que nunca viu um caso de aftosa e nós vamos orientar, mostrar com fotos e vídeos, para que eles o mais rápido possível avisem e esse foto seja fechado.

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Canal Rural Mato Grosso: Apesar da vacinação contra a febre aftosa ter sido retirada no estado, o produtor deve estar atento às demais doenças que podem surgir também?

Ribeiro Júnior  – Todas as outras vacinas não foram retiradas. O gado continuará a ser levado para o curral, vacinado contra a raiva, contra a brucelose. O produtor continuará trabalhando normalmente com a parte sanitária em dia. Graças à Deus em nosso estado não temos problema sanitário grandes, evidentes. Nós temos uma defesa sanitária que nos atende bem. Nós temos a preocupação de estar com o status sanitário em dia.

 

Canal Rural Mato Grosso: O senhor foi reconduzido para mais três anos frente à Acrimat. O que a entidade está projetando para esses próximos três anos?

Ribeiro Júnior  – No nosso primeiro mandato, devido a pandemia, conseguimos fazer nossos projetos somente no ano passado. Nossos projetos principais, como Acricorte, Acrimat em Ação, no qual levamos informação até o produtor, ficaram prejudicados. Vamos continuar fazendo esses projetos e vamos fazer novos projetos de comunicação, de estimulo ao consumo de carne. Há muito trabalho pela frente e muitos desafios.

 

Canal Rural Mato Grosso: Na área de sustentabilidade também?

Ribeiro Júnior  – Todos. Temos vários projetos de pesquisas de parcerias com a Embrapa Agrosssilvipastoril, Embrapa Gado de Corte, Embrapa Pantanal, justamente focados na fixação de gás carbônico, liberação de oxigênio, clorofila dessas vegetações nativas do Pantanal. Nós temos um trabalho pioneiro que a Embrapa Gado de corte tem realizado para nós, no qual pretendemos mostrar que a pecuária nossa é completamente sustentável.

 

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