A retenção de fêmeas para a expansão do rebanho bovino no Brasil pode se desacelerar em breve, com pecuaristas enviando mais animais para o abate, prevê o banco JP Morgan, em relatório.
A instituição financeira afirma que é difícil prever com exatidão quando isso deve ocorrer, mas espera que a arroba suba menos que a inflação até 2017. Em seus cálculos, o JP Morgan estima queda média de 1% ao ano no valor de referência da arroba em São Paulo entre 2015 e 2017, passando de R$ 144 a R$ 141. Com isso, o mercado do boi deve romper a taxa média de crescimento de 18% registrada nos últimos dois anos.
Os analistas do JP Morgan explicam a mudança pela desaceleração dos preços dos bezerros nos últimos meses, que tem reduzido o incentivo financeiro para a retenção de matrizes. Além disso, o cenário negativo para o consumo nos próximos anos tende a afetar a cadeia produtiva.
– A perspectiva de um PIB fraco para o Brasil apoia nossa visão de que pecuaristas têm um estímulo para vender a preços menores – afirmam Pedro Leduc, Andrea Teixeira, Joseph Giordano, Olivia Petronilho e Mauricio Vega, no documento.
O ajuste produtivo observado nos últimos meses, com o fechamento de plantas, reforça a tendência de baixa nos preços. Nesse ponto, o JP Morgan afirma que frigoríficos mudaram a sua estratégia de adquirir mais fábricas em tempos de crise, observada entre 2000 e 2009.
– Em vez de procurar empresas menores que estão parando devido a margens menores, eles estão deixando elas fecharem – afirmam.
Com uma melhor oferta e o arrefecimento do consumo interno, a tendência é de estabilidade de preços para a carne bovina. Por outro lado, a carne de frango deve continuar a subir ante o avanço nos preços dos grãos, o que deve favorecer o boi na concorrência com proteínas alternativas.
– A carne bovina tem a preferência cultural no Brasil, então qualquer estímulo de preço deve ser bem-vindo para acrescentá-la de volta à mesa e aos churrascos de fim de semana – disseram.
Mercado externo
O JP Morgan espera que as margens da indústria com a exportação “comecem a melhorar materialmente” no segundo semestre de 2015 e no ano que vem. Segundo o banco, isso é explicado por “uma combinação favorável do enfraquecimento do real e a moderação nos preços do gado”. Com o dólar mais alto, exportadores conseguem maior receita na moeda brasileira, feita a conversão, e se tornam mais competitivos.
A instituição financeira antecipa queda no preço do produto exportado, de 10% ao ano em 2015 e em 2016. Um dos motivos para isso é a dependência do Brasil de países exportadores de petróleo, como a Rússia e a Venezuela. Com a queda nos preços da commodity, estes clientes têm reduzido suas compras e demandam preços menores.
Mas também há fatores a sustentar os preços, como a consolidação deste mercado: JBS, Minerva e Marfrig respondem por quase 90% das vendas externas. Além disso, o preço do gado brasileiro está em mínimas históricas ante os bois criados nos Estados Unidos e na Austrália.
A abertura de mercados também pode ajudar exportadores a conseguirem bons preços. O banco estima que as companhias estejam conseguindo valores 25% superiores nos embarques feitos diretamente à China continental, em comparação com as vendas a Hong Kong. Se o Brasil passar a acessar mais mercados, o JP Morgan alerta que a tendência de queda nos preços pode ser limitada e até revertida.