Cerca de 53% dos pecuaristas entrevistados pelo Instituto de Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) pretendem confinar em 2020. Com isso, a expectativa é de que 577.550 animais sejam confinados, o que representa queda de 16,45% em relação à abril de 2019 e de 29,93% frente a outubro de 2019, quando foi realizado o levantamento final do ano passado.
Apesar de ser comum observar um comportamento mais moderado no primeiro levantamento do ano (para se ter uma ideia, em 2019, a diferença entre o último levantamento e o primeiro foi de 19,23%, este ano as principais preocupações estiveram voltadas às cotações do boi gordo, devido ao menor consumo no mercado doméstico diante do cenário da pandemia da Covid-19, os preços dos insumos de suplementação, que estão em altos patamares, assim como as cotações dos animais de reposição.
Por outro lado, mesmo com esta diferença comum entre o primeiro sentimento do ano e o resultado efetivo, o levantamento chamou a atenção pela intensidade do movimento: é a maior alta anual desde 2013 na quantidade de pecuaristas que declararam que não irão confinar em 2020, cerca de +18,17 p.p ou 1,3 vezes mais do que os relatos de abril do ano passado.
Para o sócio-diretor da Radar Investimentos, Leandro Bovo, a redução na intenção de confinamento pode impactar os preços do boi gordo no segundo semestre deste ano.
“A oferta de animais na entressafra é construída em três pilares, que são: o preço da comida para os animais, o preço da reposição e preço de venda do boi gordo ditado pelo mercado futuro. E até agora, nenhum desses pilares contribuiu para o confinamento. A comida tá muito cara, por conta do dólar que está impactando o milho e soja, a reposição do boi magro está com preços altamente elevados e o preço de venda do boi gordo no mercado futuro também não está favorável. Então, tudo isso não incentiva o confinamento e tendência é a redução do número de animais confinados”, explica o analista.
Formação de preços
Bovo explica ainda que mais importante do que o número de confinamento em si, é o semi-confinamento. “Não é atividade vigiada pelo mercado mas os números são até maiores. Se houver uma redução significativa do confinamento e semi-confinamento, e as exportações que tendem a seguir em maior fluxo no segundo semestre por conta do dólar, podemos sim ter preços melhores na pecuária.
Mercado futuro
De acordo com Leandro Bovo, o mercado futuro ainda não mostra reação em relação aos dados de confinamento. “Eles estão ignorando qualquer possibilidade de alta daqui pra frente. Inclusive, o contrato de outubro está apresentando cerca de R$ 1 abaixo do contrato de maio. Uma precificação que não é comum, mas por conta do coronavírus, o mercado está num modo de sobrevivência, sem fazer grandes apostas nos preços por conta da volatilidade.