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Diversos

Marca de cerveja pede dia sem carne, gera reação negativa no agro e depois recua

Cervejaria Heineken virou alvo de críticas após apoiar movimento sem carne nas segundas-feiras e, dessa forma, atingindo a cadeia do agronegócio, da qual também faz parte

A cervejaria Heineken virou alvo de críticas neste fim de semana, após publicação de uma propaganda nas redes sociais. Na postagem, a marca demonstrava apoio ao Dia Mundial sem Carne e convidava os consumidores a comerem mais verdes.

“Neste Dia Mundial Sem Carne, que tal comer e beber mais verde? A cerveja feita com água, malte, lúpulo e nada mais. É a opção perfeita para o acompanhamento de hoje”, trazia a publicação.

Contudo, a postagem não repercutiu bem nos setores do agronegócio e nem entre os consumidores de carnes. A resposta negativa dos consumidores virou um dos assuntos mais comentados na internet.

No domingo, 14, a empresa recuou em seu posicionamento, publicando no Instagram uma postagem em que diz que respeitava todas as escolhas. “Para não restarem dúvidas, além de água, malte e lúpulo, sabe qual nosso ingrediente secreto? O respeito por todos os gostos”, trazia o texto. Mas o prejuízo à imagem da marca não pôde ser desfeito.

Ao pedir pela diminuição do consumo de carne, a Heineken atinge toda a cadeia agropecuária, da qual também faz parte.  A cerveja é um produto obtido a partir de matérias-primas oriundas do campo, como a cevada e a o lúpulo.

De acordo com o Sistema de Comércio Exterior (Siscomex), o Brasil é o terceiro maior fabricante de cerveja no mundo, com mais de 1.190 empresas registradas e produção de 14 bilhões de litros por ano. A produção representa cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), com faturamento de R$ 100 bilhões por ano e geração de 2,7 milhões de empregos. Além disso, um levantamento realizado pela Aprolúpulo aponta que em 2019 o Brasil importou 3.600 mil toneladas de lúpulo, principal ingrediente para a fabricação da bebida.

O cultivo e o compromisso do Brasil com a categoria é tão grande que, em outubro de 2019, o Ministério da Agricultura instalou a Câmara da Cerveja,  com o objetivo de debater medidas para atender às demandas e fomentar a produção nacional.

Impacto no consumo

Para as entidades  do setor de carnes brasileiras, o posicionamento da cervejaria também impacta o consumo das proteínas. Em comentário na postagem, o presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), Nabih Amin El-Aouar, classificou como “vergonhosa” a posição da empresa.

“Não respeitaram os produtores rurais e nem mesmo o Brasil, que é o maior exportador e segundo maior produtor de carne bovina do mundo. Esse setor gera renda, emprego, divisas e dignidade para muitos brasileiros”, escreveu o executivo.

O presidente da ACNB afirmou ainda que as entidades de classe do setor rural já estão atuando pedindo uma posição formal para a empresa.

Reação negativa

Ainda nos comentários, consumidores da marca também não aprovaram o post, dizendo que não abririam mão do consumo de carne, principalmente bovina, em nenhum dia da semana. Alguns ainda afirmaram que iriam comemorar a data “comendo churrasco” acompanhado de cervejas artesanais nacionais.

Com a indignação, consumidores e produtores rurais levantaram a hashtag #churrascosemHeineken nas redes sociais. A tag já acumula mais de 100 postagens, mostrando produtores jogando a bebida fora, usando as garrafas como tiro ao alvo e substituindo a cerveja por outras artesanais e com marcar de origem brasileira (a Heineken, hoje fabricada no Brasil, tem origem holandesa).

Cerveja é agro

De acordo com estudo realizado pela Embrapa e a Cooperativa Agrária, o comércio internacional de cevada,  principal ingrediente da bebida, é de aproximadamente, 16 milhões de toneladas anuais. O Brasil ocupa atualmente a 16ª posição entre os produtores mundiais do cereal, com média de 300 mil toneladas por ano na última década, mas sobe para o 7º lugar no quesito importações, com a produção nacional suprindo apenas cerca de 35% da demanda das maltarias instaladas.

Na projeção de cenários do relatório Outlook Brasil da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a demanda doméstica de cevada deverá crescer 53% até 2022.

Ainda segundo o estudo,  o consumo de cevada deverá aumentar a cada ano, sendo usado até mesmo para o consumo animal na forma de silagem e ração. “Indiferentemente da qualidade de malte, a cevada tem sido importante alternativa nos momentos de alta no preço do milho e da soja utilizados para alimentação animal. “Empregada para produção de cerveja ou de ração, a cevada tem mercado certo sempre”, diz o estudo.

Posicionamento da Heineken

Após a publicação desta reportagem, a Heineken enviou ao Canal Rural posicionamento oficial sobre o ocorrido:

A Heineken respeita a diversidade de gostos e a livre escolha do consumidor. Seja para acompanhar um bom churrasco, uma salada ou qualquer outro tipo de refeição, para nós o mais importante é que as pessoas possam ter uma cerveja de qualidade para essas ocasiões. Em relação ao post do último dia 20, o único objetivo era reforçar que, por ser uma cerveja com ingredientes naturais em sua receita, feita exclusivamente com água, malte e lúpulo, e nada mais, também é uma opção viável ao público que segue um estilo de vida diferente e opta pelo consumo de produtos veganos. Assim como é uma opção às pessoas que amam carne. O fato não significa, de forma alguma, a desvalorização de qualquer setor da economia, apenas ressalta o direito de escolha dos consumidores.



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