A situação já levou a Marfrig a anunciar o fechamento de sua fábrica em Alegrete, iniciativa que foi revertida após intervenção judicial e negociação com os sindicatos.
– Fizemos uma reunião hoje [quinta, 26] (com representantes da cadeia) para que as empresas busquem individualmente verificar em sua estrutura operacional situações que precisariam ser corrigidas, para assim evitar uma crise maior. Já estamos num momento delicado no Rio Grande do Sul, trabalhando com ociosidade e com dificuldade até de manutenção (das unidades). Esta é mais uma situação que se coloca pra nós, mais um encargo – afirmou o presidente da entidade, Ronei Lauxen.
Recentemente, uma ação conjunta do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) interditou o frigorífico Silva, de Santa Maria, que abate cerca de 700 animais por dia.
– Estamos com diversas plantas com dificuldade de se manter, com o nível de abate abaixo de sua capacidade. Os preços, que estão elevados no Brasil, têm dado um indício de queda de consumo (de carne), inclusive motivado pelas questões econômicas de um modo geral – afirmou, acrescentando que a inflação de alimentos contribui para o quadro desfavorável.
Ele lembra que, embora a valorização do câmbio seja positiva para as empresas exportadoras, o Rio Grande do Sul não se beneficia tanto desta condição porque as indústrias do Estado estão mais direcionadas ao mercado interno. Diante deste cenário, o Sicadergs prevê estabilidade para o setor este ano no Rio Grande do Sul, mantendo o volume de abate de 170 mil cabeças de gado por mês.
– Não esperamos crescimento – resumiu.
Fiscalização
O Sicadergs reuniu representantes da cadeia produtiva nesta quinta para discutir ações que protejam o setor diante do aperto da fiscalização. Lauxen, em conversa com jornalistas após o encontro que ocorreu na sede da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), explicou que a reunião teve caráter de “orientação” e de “conscientização” e que as medidas preventivas devem ser tomadas individualmente por empresa, de acordo com suas próprias características.
Segundo ele, hoje existem cerca de 330 plantas de abate de bovinos em atividade no estado, e todas precisam de adaptações para se adequar às normas do MTE que entraram em vigor nos últimos anos. A NR36 é específica para os frigoríficos (de bovinos, aves e suínos) e trata da saúde e segurança do trabalhador, envolvendo questões como jornada de trabalho, movimentos repetitivos etc. Já a NR12 abrange indústrias de todos os setores e se refere à segurança do trabalhador no manejo de máquinas e equipamentos.
– A adequação nos preocupa em função da complexidade das regras e às vezes até de alguma subjetividade (das normas). Tem equipamentos importados com alta tecnologia que às vezes não são aceitos pelas nossas regras – falou, acrescentando que a legislação no Brasil em alguns casos segue um padrão mais criterioso do que o adotado internacionalmente.
De acordo com o presidente do Sicadergs, a adequação às regras do MTE, principalmente no que se refere à NR12, é “extremamente onerosa” e difícil de ser absorvida por indústrias que já “vêm de um período de dificuldade econômica”. Ele defende prazos maiores para que sejam feitas as correções nas plantas, mas esclarece que, por enquanto, o setor não fez nenhum pedido específico às autoridades. Segundo Lauxen, a adaptação à NR12 geraria um custo de R$ 120 bilhões para os frigoríficos brasileiros.
– As empresas vão trabalhar para se ajustar, talvez uma com mais dificuldade do que a outra – resumiu.
Representantes da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) e da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) também participaram do encontro desta quinta. A fiscalização que interditou o frigorífico Silva foi a primeira de uma série de ações previstas para este ano em unidades de bovinos e de suínos para verificar as condições de trabalho. Em 2014, o alvo foram as indústrias de aves.