Com o milho valendo mais que o dobro do que valia no ano passado, o confinamento do boi deixou de ser tão atrativo para os produtores. Para se ter uma ideia, em um ano o preço do milho aumentou 112%, com a saca valendo mais de R$ 50 com base no indicador Esalq/BMFBovespa, enquanto a arroba do boi gordo subiu apenas 6%, cotada em aproximadamente R$ 115.
Esta diferença interfere no número de animais que vão para o confinamento neste ano, segundo avaliou o diretor técnico da Informa Economics IEG | FNP, José Vicente Ferraz. “O pecuarista faz um cálculo onde ele verifica em que hipótese ele vai comercializar esse gado e quais vão ser os custos. Se esses custos subirem demais, ele, obviamente, tende a desistir a confinar ou reduzir o número de animais em confinamento, já que ele não vê a perspectiva de lucro”, disse.
A redução no número de animais confinados já é contabilizada na Coplacana, cooperativa de Piracicaba que começa a engorda do gado a partir de abril. “Este ano está um pouco mais retraída a procura, em torno de 30%. Pode ser que este mercado venha a ‘acontecer’ ainda, com um pouco mais de frio, ou deixando as pastagens por causa de seca”, disse Klever José Coral, superintendente da Coplacana.
Coral conta que o custo total de engorda é de cerca de R$ 750 por animal, 12% maior do valor cobrado pelo confinamento no ano passado. A cooperativa disse ainda que conseguiu amenizar a alta da ração à base de milho substituindo o insumo por produtos mais baratos. “Nós trabalhamos com a parte de polpa cítrica, bagaço de cana cru, resíduos que saem da limpeza dos cereais da nossa unidade de grãos, que depois é transferida para o confinamento. Com isso, a gente consegue ter um valor de mercado para os produtos utilizados”, disse Klever.
Se escassez de milho diminui o confinamento e, por consequência, a oferta de gado, o aumento do preço da arroba do boi gordo e também de outras proteínas animais é tendência daqui pra frente. “Ao diminuir a oferta, a tendência do preço é subir e isso vai bater lá no consumidor final, que vai pagar mais caro, principalmente, por causa dessa perspectiva de aumento de custo de produção para o pecuarista”, concluiu José Vicente Ferraz.