Cria será atividade mais bem remunerada em 2015, prevê consultor

De acordo com o Cepea, alta no preço do bezerro foi de 35,3% em Mato Grosso do Sul no período de um anoOs preços no mercado de reposição fazem da cria a atividade pecuária mais remuneradora em 2015, segundo afirmação do analista e consultor Rodrigo Albuquerque. Gerente de pecuária da fazenda Buritis Marca, em Jussara (GO), Albuquerque espera preços firmes do bezerro ao longo de todo o ano, o que deve pressionar as margens da recria, da engorda e da indústria, em um efeito cascata.

Fonte: Pixabay/Divulgação

– A cria é o setor produtivo com a bola da vez – afirmou.

Albuquerque estima que a cotação do bezerro tenha subido, em média, 45% no Brasil ao longo de 2014. Já a arroba avançou em ritmo menos acelerado, e teve alta de 25% no comparativo com 2013. De acordo com o indicador do Esalq/BM&FBovespa, a cotação do bezerro subiu 35,3% em Mato Grosso do Sul, ao passo em que a arroba avançou 25,1% em São Paulo. A diferença nos preços dos animais em seus diferentes estágios de desenvolvimento tem favorecido os pecuaristas que realizam a cria, em detrimento dos produtores que têm foco em outras etapas desse processo.

Responsável por um rebanho de 3.800 cabeças, o gerente de pecuária diz que cerca de 70% dos custos da fazenda Buritis & Marca, que atua tanto na recria quanto na engorda, estão relacionados à reposição dos animais. Com a mudança nos preços, a margem do negócio foi comprimida.

– Estou na pior relação de troca entre o boi gordo e o bezerro dos últimos 20 anos – estima Albuquerque.

A maior remuneração da cria em 2015 é considerada pelo analista um fenômeno sazonal que tende a se repetir no médio prazo em decorrência de oscilações de mercado. Albuquerque explica que, entre 2011 e 2013, os pecuaristas brasileiros enviaram muitos bois e fêmeas para o abate, incentivados pelos preços da arroba à época. A decisão trouxe impacto negativo à reprodução dos animais, o que ajudou a encarecer os preços no mercado da cria. Com isso, os fazendeiros passaram a reter mais fêmeas a partir de meados de 2014, a fim de reduzir custos com a sua principal matéria-prima. Quando houver melhora na composição do rebanho, no entanto, a tendência é a de que esse processo ocorra novamente.

No entanto, o ciclo do boi é longo comparado com o de suínos e, principalmente,  frangos, então os resultados desse processo não devem se materializar no curto prazo.

– Estamos retendo fêmeas hoje, e até 2016 ou o início de 2017 devemos vivenciar uma recuperação da oferta de animais de reposição. Mas, nesse momento, há pouca probabilidade de termos quedas violentas nos preços de reposição – destaca. 

A partir de maio, contudo, a oferta maior de animais no período de desmama pode afetar a cotação do bezerro.

– Pode haver maior pressão na oferta e algum relaxamento de preços, mas não se espera que 2015 seja um ano de cotações significativamente menores – diz.