O Conselho de Importação de Carnes da América (Mica/USA) avaliou esta semana, que há forças políticas contrárias à abertura do mercado norte-americano para a carne bovina brasileira. O órgão não espera que os embarques ao país comecem este ano. O diretor executivo da instituição, Laurie Bryant, nota que o parecer do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) que autoriza o comércio exterior se tornou efetivo no 1º de setembro, mas que as vendas externas ainda não podem começar.
– O USDA agora precisa determinar se o sistema brasileiro de inspeção de carne bovina é equivalente ao sistema norte-americano. Isso pode levar tempo, já que documentos devem ser entregues ao Serviço de Segurança Alimentar e Inspeção (FSIS) – explica Bryant.
Depois desta etapa, o USDA ainda precisa realizar visitas técnicas ao país e elaborar um relatório de auditoria.
– Não espero que isso seja concluído em 2015 – afirma o presidente do Mica.
O representante, contudo, ressalva que não tem conhecimento dos documentos já repassados pelas autoridades brasileiras, de modo que a abertura poderia ocorrer antes do previsto. Para Bryant, os esforços políticos para atrasar a aprovação da carne in natura brasileira são motivo de preocupação.
– Tanto a Câmara quanto o Senado incluíram alterações no projeto de acesso da carne bovina do Brasil e da Argentina. Se essas mudanças permanecerem, então (a aprovação) dependerá da decisão final a respeito do impacto (econômico e social) que ele terá – diz.
A Argentina recebeu parecer favorável do USDA no mesmo dia que o Brasil. As autorizações foram divulgadas durante visita oficial da presidente Dilma Rousseff e da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, aos Estados Unidos, em junho.
Na ocasião, a Associação Nacional da Carne Bovina e dos Pecuaristas (NCBA, na sigla em inglês) divulgou nota de repúdio a respeito da decisão, ressaltando que o início dos embarques elevaria os riscos de contaminação pelo vírus da febre aftosa no país.
– A pressa e a natureza desleixada dessa decisão indicam claramente os interesses políticos do governo em forçar esta medida adiante, deixando, literalmente, a ciência de lado – disse o presidente da NCBA, Philip Ellis, em nota.
A Associação dos Pecuaristas dos Estados Unidos (USCA, na sigla em inglês) também se declarou preocupada com os riscos de febre aftosa.
– Simplesmente não confiamos que o Brasil e a Argentina implementem os protocolos necessários e as práticas seguras de manejo em uma base compreensível e consistente em toda a cadeia para garantir a segurança dos produtos bovinos in natura embarcados aos Estados Unidos – afirmou o presidente da entidade, Danni Beer, também em nota.
Beer cita ainda a atuação do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), contrária aos interesses norte-americanos, como justificativa para não permitir os embarques.
Empresários
Os presidentes da JBS, Marfrig e Minerva estão preocupados com a pressão de pecuaristas norte-americanos na questão comercial. Os executivos alertaram para o atraso no início dos embarques antes mesmo de o prazo oficial do Ministério da Agricultura se encerrar, em agosto.
O CEO global da JBS, Wesley Batista, afirmou em teleconferência no mês passado que não espera realizar embarques em 2015. Já o diretor-presidente da Marfrig, Martin Secco, e o presidente da Minerva, Fernando Galletti de Queiroz, se declararam confiantes de que as vendas externas podem começar ainda em 2015.