O presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), José João Bernardes, aposta que a entressafra pode registrar novos recordes de preço para a arroba.
Ele afirmou que a oferta de animais confinados não deve aumentar em 2015 e que um eventual avanço da exportação pode dar suporte às cotações do boi gordo.
– Estamos confiantes de que os preços recordes do primeiro semestre podem voltar, até porque a queda [ocorrida na safra] não foi tão drástica assim – argumenta.
A máxima nominal do ano em São Paulo ocorreu em abril, quando o indicador Cepea/Esalq atingiu R$ 150,65/arroba à vista.
A Acrimat reconhece que há uma redução na demanda interna por carne bovina, com a migração para proteínas alternativas ante a crise macroeconômica, mas mantém a previsão de avanço de preços. A associação estima que os abates em Mato Grosso devem registrar queda de mais de 500 mil cabeças em 2015, no comparativo anual, por causa da oferta restrita – o que é favorável aos preços pagos aos produtores.
Para a entidade, a menor disponibilidade de bois é consequência do excessivo abate de fêmeas nos últimos anos. Com menos matrizes à disposição, pecuaristas têm dificuldade para atender à demanda atual na reposição.
Bernardes adota tom menos otimista do que o de vários analistas, que preveem melhora na oferta de gado já em 2016. Segundo o presidente da Acrimat, o ciclo pecuário deve avançar mais lentamente do que o previsto.
– O cenário não deve se reverter antes de 2018, talvez 2019. E, se houver aumento significativo nas exportações e maior demanda, o ciclo vai se prolongar ainda mais – afirma.
Bernardes indica que o abate de fêmeas segue em nível acima do ideal e não deve permitir uma nova “superoferta de bezerros”.
Além disso, a percepção do presidente da Acrimat é a de que a escassez de animais para o abate sinaliza que o estoque total de bovinos pode ser menor do que o declarado – dados da campanha de vacinação contra a febre aftosa realizada pelo Ministério da Agricultura em 2014 estimam a população de bovinos em 210,6 milhões de cabeças. Mato Grosso possui o maior rebanho, com 28,4 milhões de animais.
Outro elemento que pode afetar o ciclo pecuário no longo prazo é a expansão da fronteira agrícola. A Acrimat estima que a pecuária em Mato Grosso tem cedido, em média, 500 mil hectares de pastagens por ano a outros cultivos, sendo que em alguns casos a mudança é resultado da integração lavoura-pecuária. Ainda assim, o avanço da produtividade no campo pode não ser suficiente para garantir expansão da oferta.
– A adição de tecnologia não é capaz de acelerar muito o ciclo, até porque já avançamos muito nisso. Temos poucos animais com mais de 36 meses de idade. O período de produção de um bezerro muitas vezes é intransponível. Uma fêmea pode levar dez meses de gestação e temos que esperar de seis a oito meses para a desmama. Não há tecnologia que mude isso – observa Bernardes.