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Febre aftosa: veja quando o seu estado deve ser liberado da vacinação

Santa Catarina conquistou há 12 anos o certificado internacional de área livre da doença sem vacinação; retirada da imunização foi autorizada no Paraná, para introduzir estado no processo de transição

bovino sendo vacinado contra febre aftosa
A vacinação contra febre aftosa custa ao pecuaristas cerca de R$ 600 milhões por ano. Foto: Ministério da Agricultura

A febre aftosa é uma das doenças animais mais contagiosas e causa grandes perdas econômicas aos produtores. O Brasil, felizmente, é considerado pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) como zona livre com vacinação — exceto Santa Catarina, estado que foi reconhecido em 2007 pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como zona livre de febre aftosa sem vacinação.

De acordo com o chefe da divisão de Febre Aftosa do Ministério da Agricultura (Mapa), Diego Viali dos Santos, o estado do Paraná continua com o status de livre de febre aftosa com vacinação. Recentemente, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, autorizou a retirada da vacinação para introduzir o estado no processo de transição, que é o primeiro passo para conquistar o título de livre doença sem vacinação (confira mais abaixo o passo a passo do processo de transição).

O último foco da doença no país foi registrado em 2006, segundo o diretor do departamento de Saúde Animal do Mapa, Geraldo Moraes, o último foco da doença no Brasil , ou seja o propósito da vacina foi cumprido. “Mas a retirada da vacinação pressupõe outras ações, como o fortalecimento do sistema de vigilância”, afirma.

As ações mencionadas por Moraes fazem parte do Plano Estratégico do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa1 (Pnefa), que começou a ser executado em 2017 e deve perdurar até 2026.

Segundo o documento, o Ministério da Agricultura, em conjunto com as equipes gestoras estaduais e nacional, deve realizar o monitoramento dos indicadores e da execução das ações previstas, com a finalidade de avaliar a necessidade ou a possibilidade de antecipar ou adiar o cronograma de transição em estados específicos ou em quaisquer dos blocos organizados.

Mas que blocos?

As unidades federativas foram divididas, inicialmente, em cinco grupos, sendo eles:

  1. Rondônia, Acre e alguns municípios do Amazonas* e de Mato Grosso**;
  2. Roraima, Amapá, Pará e demais municípios do Amazonas;
  3. Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas;
  4. Sergipe, Bahia, Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e demais municípios de Mato Grosso;
  5. Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

*Municípios do AM: Apuí, Boca do Acre, Canutama, Eirunepé, Envira, Guajará, Humaitá, Itamarati, Ipixuna, Lábrea, Manicoré, Novo Aripuaná, Pauini e parte de Tapauá na divisa com Humaitá;

**Municípios de MT: Rondolândia e partes de Comodo, Juína, Colniza e Aripuanã.

Gráfico: Ministério da Agricultura

Previsão da última vacinação contra aftosa em cada bloco

  • Bloco I: novembro de 2019*
  • Blocos II, II e IV: maio de 2021
  • Rio Grande do Sul: maio de 2021

* A previsão era de que o Bloco I passasse pela última vacinação em novembro, mas os estados não conseguiram atender aos requisitos do Ministério da Agricultura. As condições devem ser reavaliadas em 21 de novembro para definição do novo cronograma de suspensão da vacina. Se o resultado for positivo, essa região deixa de vacinar a partir da próxima etapa de imunização, em 2020, e passar a seguir o mesmo cronograma do Paraná.

Passo a passo do processo de transição do Paraná

  • 1º passo: processo de transição consiste na retirada da vacinação autorizada pelo Mapa. Nesta fase, ainda é permitido o trânsito de animais
  • 2º passo: em janeiro de 2020, será proibida a entrada de animais vacinados no estado
  • 3º passo: no final do 1º semestre de 2020, deve sair o reconhecimento nacional do Paraná como livre de febre aftosa sem vacinação. Nesta fase, aumenta a restrição do trânsito: animais não vacinados, como suínos, precisam fazer sorologia
  • 4º passo: setembro de 2020, o Brasil vai pleitear junto à OIE o status internacional de livre de febre aftosa sem vacinação.

De onde vem a febre aftosa?

A febre aftosa espalhou-se pelo mundo a partir do gado europeu, chegando à América do Sul por volta de 1850. Os primeiros registros da doença no Brasil foram feitos em 1870, no Sul.

Em 1988, preocupado com os prejuízos econômicos provocados pela doença, o governo brasileiro colocou em prática o Plano Nacional de Sanidade Animal, no qual a aftosa aparecia como prioridade.

No ano seguinte, equipes de defesa sanitária identificaram mais de cem focos de aftosa no Rio Grande do Sul após o ingresso de gado uruguaio contaminado no território gaúcho. O estado teve dificuldade para controlar a disseminação da doença e enfrentou dezenas de focos da doença em 1990.

A Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul determinou a vacinação de quase três milhões de cabeças de gado, em 1992, para tentar conter o avanço da doença, meta alcançada no ano seguinte, com auxílio também de medida sanitárias. Naquele ano, o estado ainda registrou quatro focos.

De lá para cá, casos em território brasileiro e nos países vizinhos trouxeram medo aos pecuaristas brasileiros. Em 2004, por exemplo, a ocorrência de focos de aftosa em municípios do Pará e Amazonas, no norte do Brasil, resultou na restrição de importações de carne por vários países.

Na época, o governo realizou ações para demonstrar aos compradores que as áreas atingidas ficavam longe do Centro-Oeste, Sudeste e Sul, principais regiões de produção de carne para a exportação.

Apenas em 2018 a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) certificou o Brasil como país livre de aftosa.

Sintomas

Nos primeiros dias antes da manifestação das feridas os animais apresentam falta de apetite, calafrios, febre e redução da produtividade de leite. Após a manifestação das aftas o animal não consegue se alimentar ou caminhar, ficando prostrado e fraco.

Risco para o homem

A aftosa não representa risco para a saúde humana. A doença não é transmitida pelo consumo de carne, leite e derivados de animais infectados. Alguns casos raros de feridas nas mãos e outros sintomas leves foram relatados em seres humanos que lidavam de forma muito próxima com animais infectados.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito clinicamente, após a observação das feridas, e a confirmação se dá após análise laboratorial de tecido coletado na mucosa (de dentro da boca).

Resistência

O vírus é resistente ao congelamento e só é fica inativo em temperaturas superiores a 50ºC. Sobrevive nos gânglios linfáticos dos animais e na medula óssea, onde há pH neutro (nível de acidez), mas morre nos músculos onde o pH é inferior a 6. Pode sobreviver em forragens contaminadas e no meio ambiente por até um mês se houver condições favoráveis de temperatura e pH.

Permanência do vírus

Carne e produtos derivados com pH acima de 6 também conservam o vírus. Bovinos vacinados expostos à doença ou infectados e não abatidos conservam o vírus por 30 meses ou mais (búfalos); nos ovinos o período de conservação é de nove meses. O período de incubação em animais vivos e não vacinados é de 2 a 14 dias, após os quais começam a aparecer sintomas como vesículas e aftas nas mucosas e língua, feridas no úbere e nos cascos.

Recuperação

A recuperação começa a ocorrer entre 8 a 15 dias após a manifestação dos sintomas. Em casos mais graves os animais sofrem com a superinfecção das lesões, deformação de cascos, mastites e redução permanente da produção de leite, perda de peso, doenças do músculo cardíaco, aborto e morte de animais jovens. Nos ovinos e caprinos as lesões são menos pronunciadas, podendo passar desapercebidas. A mortalidade é alta entre animais jovens. Os porcos podem desenvolver graves lesões nos pés.

Prevenção

  • Proteção de zonas livres mediante controle e vigilância dos deslocamentos de animais nas fronteiras;
  • Sacrifício de animais infectados, recuperados e de animais suscetíveis que entraram em contato com indivíduos doentes;
  • Desinfecção dos locais e de todo material infectado (artefatos, veículos, roupas);
  • Destruição dos cadáveres e produtos animais suscetíveis na zona infectadas;
    Medidas de quarentena;
  • Vacina com vírus inativado (a imunidade é conferida seis meses após as primeiras vacinações).

Custo da vacina

Segundo o Departamento de Saúde Animal, o custo médio com aquisição e aplicação da vacina contra a febre aftosa no Brasil varia de R$ 1,50 a R$ 2 por animal. “A gente tem uma estimativa de R$ 500 milhões a R$ 600 milhões por ano gastos”, diz.

Moraes conta que serviços veterinários oficiais compram vacinas, mas apenas para pequenos produtores de regiões de difícil acesso. “A maior parte do custo sai da conta do produtor”, afirma.

Oportunidades de mercado

A retirada da vacinação sinaliza para o mercado um produto de melhor qualidade, defende Geraldo Moraes. “O que pode significar a abertura para mercados mais exigentes, como Japão e EUA, que não convivem com a doença há muitos anos”, finaliza.

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