O presidente global da JBS, Wesley Batista, afirmou que as exportações de carne bovina em 2015 devem ficar muito abaixo do volume reportado no ano anterior.
– O segundo semestre deve ser melhor, mas ainda não será um período que possa ser celebrado. Então claramente vamos decrescer as exportações, até por conta da queda no primeiro semestre do ano – avaliou o CEO da companhia nos bastidores do Salão Internacional da Avicultura e Suinocultura (SIAVS), em São Paulo.
Segundo Batista, os volumes embarcados estão menores este ano porque o Brasil apresentou uma “dependência relevante de mercados que também estão em dificuldade”, tal como Rússia e Venezuela, que reduziram suas compras no início do ano e ainda não retomaram plenamente a sua demanda.
– Então teremos um ano bem abaixo do que foi visto no ano passado – concluiu Batista.
As vendas externas de carne bovina caíram 14% em volume e 18% em receita de janeiro a junho, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). A retração fará a entidade rever suas projeções para o ano, conforme informou o diretor executivo da Abiec, Fernando Sampaio, mas a associação ainda espera um resultado recorde este ano.
Tegel Foods
Batista disse também que a JBS ainda não foi sondada pela Affinity Equity Partners para fazer uma oferta de compra pela Tegel Foods, companhia do setor de aves da Nova Zelândia.
A JBS é cotada pela imprensa oriental como uma das candidatas para adquirir a companhia, visto que mantém laços com a Affinity, de quem adquiriu a Primo Smallgoods em 2014 por US$ 1,25 bilhão. A transação foi concluída em março deste ano.
– Eu ouvi [sobre a venda], mas não fui consultado, isso não foi falado. O que ouço é a especulação da imprensa – afirmou o executivo.
– Eu conheço de nome a empresa, mas não tenho detalhes da operação para avaliar e dizer se isso faria algum sentido para nós. Temos olhado para oportunidades no mundo, mas, para nós, a venda (da Tegel) foi uma surpresa – disse.
A Affinity teria entrado em contato com bancos de investimento para organizar a venda da Tegel a outros gestores ou a oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da empresa. A meta do grupo de investimentos é captar pelo menos 900 milhões de dólares da Nova Zelândia (US$ 602 milhões) com a operação.
Tanto a JBS quanto a BRF são cotadas como potenciais compradoras, visto que estão focadas na expansão da Ásia, onde o consumo de proteína animal deve avançar consideravelmente na próxima década. O CEO da BRF, Pedro Faria, compareceu ao SIAVS, mas não comentou a questão porque a empresa está em período de silêncio. A companhia divulga seus resultados trimestrais na quinta, dia 30, após o fechamento do mercado.
A Tegel é uma companhia que atua na produção integrada de aves, trabalhando com um mix de produtos processados diversos. A empresa possui quatro unidades de processamento de grande porte e outras fábricas focadas em produtos de menor valor agregado, empregando 1,7 mil funcionários.
Potencial
O presidente da JBS disse ainda que o Brasil é o país com o maior potencial para aumentar sua produção de proteína.
– O Brasil tem uma condição natural para produzir uma proteína super competitiva no mercado internacional – afirmou o executivo.
Segundo Batista, esse potencial deve permitir que o Brasil se torne líder em bovinos, aves e suínos no futuro. Como exemplo, ele destacou que o Brasil tem mais de 200 milhões de cabeças de gado, contra cerca de 90 milhões de animais nos Estados Unidos, mas produz dois milhões de toneladas de carne bovina a menos anualmente.
Em seu discurso, o CEO da JBS destacou que o país precisa aproveitar o início de um novo ciclo, “que é o de aumento expressivo na demanda por comida e, especialmente, proteínas”.
A JBS prevê que a China deve registrar crescimento significativo na demanda destes produtos. Segundo Batista, o país está em um momento de transição. Após décadas de crescimento econômico por meio de investimentos, o governo chinês pretende “migrar o motor de crescimento para o consumo”. Batista ressalta que esse é um diferencial em relação ao Brasil, cuja economia foi impulsionada pela demanda interna nos últimos anos.
A respeito do mercado interno, o CEO ressalta que a JBS está ciente da desaceleração econômica e da deterioração em índices macroeconômicos, mas que está de olho nas perspectivas positivas de médio e longo prazo para o país. Contudo, Batista afirma que o país tem perdido produtividade, o que precisa ser corrigido.
– Temos que ganhar mais competitividade. A JBS continua investindo nisso, continua investindo no Brasil – disse.
Rating
A revisão da perspectiva da nota soberana de crédito do Brasil pela Standard & Poor’s (S&P), nessa terça, dia 28, “sem dúvida nenhuma não é positiva” para o setor, afirmou Batista, em coletiva de imprensa. A agência de classificação de riscos alterou a perspectiva do rating BBB- do Brasil para negativa, de estável.
Segundo o executivo, o Brasil “tem que tomar cuidado”, pois o ajuste deve ser mais difícil que o esperado inicialmente, com projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) sendo cortadas todas as semanas pelo mercado financeiro.
– É um caminho desafiador, mas dá para resolver, pois o Brasil tem instituições sólidas. Mas não será fácil, não dá para arrumar sem dor –disse.
O executivo da JBS prevê que o consumo “continuará pressionado” ao longo do ano em virtude das condições macroeconômicas menos favoráveis. Nesse sentido, Batista destaca que a carne bovina deve enfrentar perspectivas mais difíceis que os setores de aves e suínos, que têm se beneficiado com a migração de consumidores para proteínas mais baratas.
Segundo Batista, a JBS, que já fechou cinco fábricas de processamento de carne bovina este ano por causa da vendas mais fracas no atacado e da menor oferta de bois, encerrou por ora o seu ajuste produtivo para enfrentar a desaceleração da economia.
– Fizemos um ajuste, uma otimização, e achamos que já saneamos isso. Mas não posso prometer que não haverá mais mudanças se o consumo doméstico e as exportações continuarem desafiadores – disse.
O presidente da JBS também afirmou não esperar dificuldades para a conclusão do acordo de compra da Cargill Pork nos Estados Unidos e que a valorização do dólar beneficia a companhia, uma das maiores exportadoras do País, apesar de deter boa parte de suas dívidas na moeda norte-americana.