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Pecuária

Moscas-dos-chifres: veja dicas para diminuir em até 70% as infestações

Presente em grande parte do Brasil, o inseto costuma causar mais estragos no verão, período mais propício para sua multiplicação

A haematobia irritans, mais conhecida como mosca-dos-chifres, tem origem europeia e foi introduzida acidentalmente no Brasil na década de 1970. Desde então, a praga se espalhou por quase todo o país e vem causando dores de cabeça aos pecuaristas brasileiros.

moscas-dos-chifres
Foto: Daniel Medeiros/Embrapa Rondônia

De acordo com a pesquisadora Marcia Cristina de Sena Oliveira, da Embrapa Pecuária Sudeste, os prejuízos anuais são da ordem de milhões de dólares. “É meio difícil separar os prejuízos causados somente por conta das infestações por haematobia, devido à presença de outros parasitas, como os carrapatos que ocorrem concomitantemente. Mas podemos dizer, com certeza, que a irritação e a espoliação provocada pelas picadas das moscas provocam perdas significativas para os produtores de carne e leite”, diz.

A pesquisadora explica que as moscas-dos-chifres deixam os animais parasitados desconfortáveis e estressados, com suas picadas dolorosas e frequentes. Além disso, elas alimentam-se do sangue dos alvos, podendo transmitir doenças e provocar queda de produtividade expressiva nos rebanhos. “As fêmeas se alimentam nos bovinos sugando sangue de forma constante e colocam seus ovos nos bolos fecais frescos desses hospedeiros”, diz.

Marcia recomenda que os pecuaristas fiquem atentos à presença dessa praga, que costuma provocar infestações mais graves nos meses mais quentes e úmidos do ano. “Nos meses mais frios e secos, a emergência de moscas nos bolos fecais é reduzida e o intervalo entre as gerações fica maior, diminuindo a população de moscas nos animais. Um bom plano de controle deve ser feito de modo a reduzir ao máximo a quantidade durante o verão”.

Há animais mais suscetíveis que outros a ataques das moscas-dos-chifres?

Segundo a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, algumas raças são mais sensíveis que outras, incluindo zebuínos e taurinos. “Os níveis de infestação podem variar muito, dependendo do tipo de sistema de criação, raça do animal, sexo, cor da pelagem, aspectos individuais, entre outros”, menciona.

Sabe-se que os sistemas de produção a pasto geram infestações maiores, já que os animais ficam nas pastagens onde os bolos fecais ficam disponíveis para que as fêmeas das moscas façam a postura e com isso gerem uma grande quantidade de novos parasitas.

Além disso, os rebanhos leiteiros são compostos basicamente de fêmeas e elas apresentam normalmente infestações menores que os machos.

Algumas raças são mais parasitadas e esse fenômeno pode ser verificado com mais clareza analisando o gado de corte, segundo Marcia. “Produtores usam maior variedade de raças e cruzamentos nos sistemas de produção. Animais com pelagem escura são mais parasitados”, diz.

Como fazer o manejo das moscas-dos-chifres?

A pesquisadora da Embrapa ressalta, antes de tudo, que não existe uma forma simples para controlar infestações graves de moscas-dos-chifres. “Porém, o que pode ajudar a manter o nível de infestação a um nível baixo é proporcionar um ambiente saudável para os animais, pastagens de boa qualidade, dieta adequada para a idade e nível de produtividade dos animais, manejo sanitário adequado, incluindo vacinas contra as principais doenças bacterianas e virais”, diz.

Marcia frisa que todos os inseticidas apresentam riscos no uso, por terem substâncias tóxicas. “Além disso, o uso sistemático dos inseticidas leva invariavelmente à ocorrência de indivíduos que sobrevivem aos tratamentos e são capazes de transferir essa capacidade a sua progênie”, diz.

As moscas-dos-chifres apresentam peculiaridades que fazem elas desenvolverem mais rapidamente resistência aos pesticidas. “Os inseticidas de contato, os de longa ação e os brincos impregnados fazem com que as moscas tenham um contato prolongado com baixas doses, o que leva invariavelmente a sobrevivência de muitos indivíduos nas populações. Essas moscas sobreviventes transferem a característica de resistência para a sua progênie por meio de mutações genéticas específicas, que dependem do sítio de ação de cada inseticida”, conta.

Para complicar ainda mais a situação, segundo a pesquisadora, cada mosca dos chifres é capaz de produzir cerca de 300 ovos durante sua vida e podem ocorrer mais de 20 gerações por ano em regiões propícias ao seu desenvolvimento, o que acelera muito o estabelecimento da resistência.

Marcia defende que o controle de parasitas seja feito de forma racional usando os resultados dos testes de resistência aos pesticidas feitos em laboratório. “Esses testes podem indicar quais as bases químicas apresentam maior eficácia contra a população de carrapatos e moscas testadas. Deve-se ter em mente que o uso de um pesticida irá afetar a população tanto de moscas como de carrapatos e irá provocar a sobrevivência de uma porcentagem da população que irá sobreviver aos tratamentos”, lembra.

Alternativas aos químicos

Métodos alternativos como armadilhas, e uso de substâncias mais inócuas podem ajudar no controle. Armadilhas simples colocadas nas pastagens podem reduzir até 70% das infestações por moscas-dos-chifres nos animais.

Outra alternativa é usar o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que apresenta muitos benefícios quando comparado ao sistema convencional de pastagens, a pleno sol.

Um aliado do produtor é o besouro conhecido “rola-bosta”, que pode ajudar a diminuir a multiplicação das moscas dos chifres. Ele ataca o bolo fecal, destruindo as larvas em desenvolvimento.

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