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El Niño acentua estiagem no Pará e compromete engorda a pasto

O fenômeno agrava a entressafra e mantém arroba em alta, mas o produtor nem sempre se beneficia

Fonte: Boi a Pasto/ Divulgação

A influência do fenômeno climático El Niño sobre o regime de chuvas do Pará tem prolongado a estiagem e comprometido a engorda dos bois a pasto em importantes regiões produtoras. O fenômeno agrava a entressafra pecuária e obriga a indústria a pagar cada vez mais pelos poucos lotes de animais à venda, a fim de garantir o funcionamento de suas unidades.

Neste ambiente de negócios, a arroba está em alta há semanas, mas não necessariamente o contexto é favorável ao produtor, de acordo com a Informa Economics FNP.

– Muitos pecuaristas tinham lotes em terminação, mas não conseguiram vendê-los em tempo hábil. Com as pastagens secas, o boi gordo virou boi magro –, disse o analista da consultoria Aedson Pereira.

Compras de outros estados

A oferta de animais para o abate este ano também está relativamente menor porque há mais compradores vindos de fora do Pará para negociar lotes. O contexto geral no Brasil é de baixa disponibilidade de gado, em parte reflexo do grande abate de fêmeas ocorrido nos últimos anos em razão da estiagem e de preços baixos do boi gordo.

Em 2015, produtores têm feito movimento oposto, preservando matrizes para a expansão do rebanho – o que também diminui a oferta. Neste cenário, Pereira diz que há frigoríficos de Goiás, Tocantins, Mato Grosso e até São Paulo buscando animais terminados no Pará.

– A procura não é por maior qualidade e nem para se valer de um diferencial nos preços da arroba [entre SP e PA], e sim evitar a paralisação de mais plantas –, explica Pereira.

Estima-se que mais de 40 frigoríficos tenham fechado as portas em 2015, muitas deles alegando falta de matéria-prima.

– A engorda também está limitada porque o Pará não dispõe de grandes confinamentos. O estado não é um produtor expressivo de grãos [necessários para alimentar bois confinados] e tem como característica a pecuária extensiva [predominantemente a pasto] –, afirma o consultor.

Preços

Diante desses fatores, agravados pela falta de chuva para melhorar a qualidade das pastagens, os preços da arroba têm subido no estado. A Informa apurou que as cotações de Marabá e Redenção avançaram R$ 10 por arroba (ou 8%) desde o início de setembro, a R$ 135 à vista. Em Paragominas a alta foi maior: R$ 11 por arroba (8,8%), também para R$ 135.

O analista da Informa observa que os valores estão acima dos apurados atualmente em Mato Grosso (entre R$ 128 e R$ 133), o que é considerado atípico. Diante dos preços, parte dos frigoríficos tem optado por operar com maior capacidade ociosa e há casos de plantas que já concederam férias coletivas.

Os reajustes acompanham a estiagem. Segundo dados da Somar Meteorologia, Paragominas registrou apenas 5,4 milímetros de chuvas entre 1º de setembro de 19 de outubro. No mesmo período do ano passado, foram 24,5 mm. Em Redenção, as chuvas somaram 12,2 mm, montante inferior aos 76,3 mm de 2014. Marabá registrou o maior índice, 31 mm, mas choveu em apenas dois dos 49 dias analisados. Ainda assim, a pluviosidade ficou em um terço do resultado do ano passado: 93,4 mm.

Sem poder enviar animais ao abate agora, produtores devem manter parte dos bois magros em suas propriedades à espera do verão, quando as chuvas devem melhorar e, com elas, os pastos.

– Se o clima permitir a recuperação das pastagens degradadas, a oferta pode até aumentar nos próximos meses –, antecipa Pereira.

Também é possível que pecuaristas negociem bois magros com outros estados, ajudando a oferta futura em outras regiões produtoras.

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