“Utilizar o conceito do Boi 777 é a forma de ganhar dinheiro hoje com a pecuária no Brasil.” A frase é de Fernando Nemi Costa, engenheiro agrônomo e consultor da Cos@ Assessoria Pecuária. O Boi 777 é um conceito de produção desenvolvido pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que preconiza a produção de um gado de 21 arrobas em até dois anos, quando normalmente levam-se até três anos para produzir um gado de 18 arrobas.
O método tem revolucionado a pecuária de corte no Brasil e conquistado pecuaristas de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Goiás, Pará e Rondônia. Em 23 de novembro de 2018, o conceito de produção desenvolvido pela Apta será tema do painel Caminhos do Boi 777, na InterCorte São Paulo, de 21 a 23 de novembro.
Segundo Costa, com a tecnologia é possível reduzir a idade de abate dos animais e aumentar o peso de carcaça. O sistema tem como meta que o animal alcance sete arrobas na desmama, sete na recria e outras sete na engorda, daí deriva o nome boi 777.
“Dependendo da quantidade utilizada na suplementação eu também aumento a lotação da fazenda, inserindo mais animais por hectare. Além disso, quando o animal alcança as sete arrobas na recria, com a utilização de suplementação, ele se adapta muito rapidamente ao confinamento, o que também traz ganhos”, explica Costa, que tem uma fazenda de gado de corte em Santa Vitória, em Minas Gerais, e presta consultoria a outros nove pecuaristas que também utilizam o sistema de produção.
O conceito também é aprovado por Alaor Ávila Filho, pecuarista de Indiara, Goiás, e um dos primeiros usuários do sistema de produção desenvolvido pela Apta. Ávila conta que, antes de utilizar o boi 777, a lotação de animais em sua fazenda era de 1,5 por hectare (UA/ha). A partir de 2014, com a adoção do sistema, essa média subiu para 2,4 UA/ha, chegando a até 9 UA/ha.
Ávila conseguia produzir, em média, 15 arrobas por hectare ao ano. Hoje, atinge até 31 arrobas por hectare. “Com a suplementação de 2% do peso vivo do animal, a substituição do capim pela ração é alta e as lotações dos pastos vão aumentando com o ganho de peso dos animais. É possível produzir até 50 arrobas por hectare sem grandes modificações na fazenda. Esse sistema requer organização e estratégia. Se o produtor for bem organizado, é imbatível”, afirma.
Produtor precisa fazer conta
A produção de bovinos com qualidade e em tempo 30% menor requer estratégia. “É necessário que sejam utilizadas diversas ferramentas para atingir esse resultado. O trabalho envolve, principalmente, manejo de pasto e suplementação alimentar”, explica Gustavo Rezende Siqueira, pesquisador da Apta. A dosagem da suplementação varia: quanto maior o peso do animal, maior a dosagem.
“Essa suplementação ajuda na engorda e não causa nenhum prejuízo para a saúde do animal. O pecuarista precisa se preparar para o sistema, fazendo todo o manejo de pasto necessário e, no período de seca, suplementar a alimentação com ração. O segredo do boi 777 é: bom pasto na época das águas e suplementação na época das secas”, afirma Flávio Dutra de Resende, pesquisador da Apta.
Entre os usuários do sistema, a opinião é unânime: para conseguir atingir a meta do boi 777 e ganhar dinheiro com a produção, é necessário fazer conta. Isso envolve uma análise sistêmica da produção, conhecendo todos os custos e sabendo, principalmente, por quanto a arroba será vendida para o frigorífico.
“É necessário fazer a conta de trás para frente. Preciso saber quanto a arroba do meu animal vai valer no frigorífico para traçar todo o meu planejamento para saber quanto essa arroba vai me custar. Temos que trabalhar com margem”, afirma Ávila.
Segundo ele, o valor investido na produção por animal aumenta muito em termos nominais. Na fase de engorda, porém, o valor da arroba produzida diminui, e o resultado obtido por área é superior.
“Com a diminuição do custo da arroba produzida e o aumento da lotação, o resultado financeiro em reais por hectare aumenta muito, proporcionando competitividade com qualquer outro sistema de produção, seja cana, milho ou soja”, afirma.
Para ter uma ideia, na safra 2012/2013, Ávila obteve lucro líquido de R$ 900,00, por hectare. Com a adoção do conceito, esse valor saltou para R$ 2.600,00, por hectare de lucro, ou seja, descontados todos os custos de produção.
“O maior problema é o produtor entender que ele vai tirar R$ 1,00 para colher R$ 5,00. Essa é mais ou menos a conta. O pecuarista precisa enxergar lá na frente. Ele não está tendo uma despesa. Está fazendo um investimento nutricional que vai ser um suporte para o animal seguir os passos do 777. Precisamos ser eficientes. Temos que ter eficiência no negócio para produzir mais barato do que vamos vender”, explica Costa.
O pecuarista mineiro afirma que não existe uma receita de bolo a seguir. Em determinados anos, a fazenda tem uma forragem melhor e o preço da ração está mais alto, então o animal fica mais tempo no pasto. Em outros, o pasto tem qualidade afetada e, por isso, o animal precisa ir para o confinamento mais cedo.
“O importante é se planejar. Uso o sistema desde o começo, e meus clientes também utilizam. Até hoje não paramos. A tecnologia veio para ficar”, afirma.
Caminhos do Boi 777
O painel na InterCorte São Paulo que leva o nome da tecnologia desenvolvida pela Apta Colina contará com duas palestras principais que apresentam o caminho para chegar ao boi 777. e serão apresentadas pelos pesquisadores que desenvolveram o conceito.
O pesquisador da Apta Colina, Gustavo Rezende, abre o painel com a palestra “Consolidando as 7@ na cria e recria”, que abordará a primeira fase da tecnologia, em que o bezerro é desmamado por volta dos oito meses, e a fase de recria, quando o animal atinge as 14@, com cerca de 20 meses.
Dando sequência à programação, o pesquisador Flávio Dutra sobe ao palco para a palestra “Consolidando as 7@ da terminação”, que mostra a fase em que o animal alcança as 21@, no período de 24 meses.
Outro destaque da atração é a palestra “O que se espera da carcaça do Boi 777?”, ministrada pela pós-doutoranda que atua na Apta Ivanna Moraes de Oliveira, além do tema “Por que o Boi 7.7.7 é bom para a indústria?”, seguido por um debate final que reunirá os palestrantes da manhã.
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