Os altos preços recebidos pelos pecuaristas têm reduzido os incentivos à mudança na criação de animais sem o uso de antibióticos nos Estados Unidos, como já ocorre amplamente na avicultura de corte do país. Além disso, a mudança nos protocolos de uso desses medicamentos no setor de bovinos é difícil, afirmam especialistas. O gado de corte normalmente vive um ou dois anos antes do abate, o que representa risco maior de exposição dos animais a doenças do que no caso dos frangos, que normalmente vivem apenas seis semanas. Mais: os processadores de bovinos têm menor controle sobre a criação de animais. Normalmente, as empresas compram o gado de uma ampla variedade de produtores e de intermediários, ao passo em que os processadores de frangos costumam fechar contratos de fornecimento exclusivo com os produtores.
Soma-se a isso a falta de incentivos financeiros para que os pecuaristas troquem suas práticas pela criação mais natural dos animais. Nos últimos anos, os preços do gado convencional e da carne bovina registraram forte alta, o que impulsionou os lucros dos produtores. O valor do gado alcançou uma máxima histórica no ano passado. Em julho de 2014, o preço médio no varejo dos EUA também foi recorde, de US$ 6,16 por libra-peso, segundo o Departamento de Agricultura do país (USDA).
As variedades de carne bovina natural, orgânica e engordado a pasto – todas livres de antibióticos – são mais caras, com preços cerca de 30% a 80% superiores à carne tradicional. Em contrapartida, os custos dos pecuaristas também são maiores e são necessárias certificações e auditorias.
As vendas de carne bovina livre de antibióticos representam menos de 5% do mercado de carnes dos Estados Unidos, mas essa participação tem crescido rapidamente. A receita proveniente da venda de carne bovina com o selo “natural” avançou 23% no ano passado, para US$ 701,8 milhões, enquanto a variedade orgânica cresceu 75%, para US$ 127,1 milhões, de acordo com a empresa de pesquisas IRI. Enquanto isso, a receita total com a venda de carne bovina aumentou 7%, para US$ 23,6 bilhões.
A oferta reduzida de carne livre de antibióticos nos Estados Unidos cria problemas para alguns restaurantes. A rede Chipotle Mexican Grill, por exemplo, tem procurado oferecer essa variedade de carne e começou a importar carne bovina da Austrália no ao passado, alegando que a oferta dos EUA era inadequada. Outra rede, CKE Restaurants, depende inteiramente da carne australiana para produzir seu hambúrguer natural.
A indústria de carne de frango, de sua parte, vem reduzindo a aplicação de antibióticos, diante das novas preferências de consumidores. Grupos de defesa do consumidor e agências do governo dos Estados Unidos afirmam que o amplo uso desses produtos tanto em animais quanto em humanos aceleraram o aparecimento de bactérias resistentes.
Com um número crescente de consumidores atentando para esses alertas, as empresas se mostram cada vez mais interessadas em ofertar carne livre de antibióticos. A Tyson Foods e a Perdue Farms, por exemplo, estão produzindo mais frangos sem uso dos medicamentos, e a McDonald’s anunciou, em março, que pretende reduzir amplamente o uso de antibióticos na carne de frango que será vendida em seus restaurantes dos Estados Unidos