RS: setor leiteiro do Vale do Taquari enfrenta crise após enchentes de maio Paste this at the end of the tag in your AMP page, but only if missing and only once.

CALAMIDADE

RS: setor leiteiro do Vale do Taquari enfrenta crise após enchentes de maio

Falta de alimentos para o gado e a perda de rebanhos inteiros podem impactar diretamente a economia de pequenos municípios

O leite é um dos produtos mais importantes na economia do Rio Grande do Sul, um dos três maiores produtores do país. No entanto, as chuvas de maio podem desencadear uma nova crise no setor, que já sofreu uma baixa de 64% no número de produtores na última década. A falta de alimentos para o gado e a perda de rebanhos inteiros podem impactar diretamente a economia de pequenos municípios do Vale do Taquari.

Confira na palma da mão informações quentes sobre agricultura, pecuária, economia e previsão do tempo: siga o Canal Rural no WhatsApp!

Pode parecer um dia normal na rotina de qualquer produtor de leite gaúcho, mas tudo mudou depois da enchente de maio. A família Franz, de Arroio do Meio, no Vale do Taquari, produz leite há 60 anos. Agora, a propriedade é gerida pelo jovem Leonardo, com o auxílio dos pais, Normélio e Lori. Nossa equipe de reportagem visitou a fazenda e trouxe detalhes da situação:

Normélio Franz, produtor de leite:
“Foram três dias seguidos de enchente. A última foi a mais alta que eu já vi. Derrubou tudo aqui na região. Foi difícil, realmente foi difícil. Eu pensei: o que nós vamos fazer aqui?”

Lori Bolikenhagen Franz, produtora de leite:
“Como eu vou dizer? Como se eu não tivesse mais chão. Só via água. Só isso. Água e as vacas berrando de fome e não tinha mais bóia pras vacas.”

A propriedade conta com 180 vacas, 70 em lactação. Os animais ficaram sete dias sem comida e com silagem racionada. O resultado: a produção caiu de dois mil litros de leite por dia para a metade. Cerca de 26 hectares de milho silagem, em ponto de corte, foram perdidos com a enchente e agora apodrecem na lavoura. A única comida disponível veio de doações, suficientes apenas para um mês.

Leonardo Franz, produtor de leite:
“O nosso rebanho tem uma média de 35 litros por vaca por dia e, com isso tudo, caiu para 10 litros. Até doações têm muitas, o pessoal está ajudando muito. Se não fosse isso, não sei. Mas o problema é a logística. Tem que vir de longe, de SC, do PR.”

A situação é mais grave em algumas localidades. Em Estrela, um importante produtor de leite, muitos perderam absolutamente tudo. O leite é uma vocação muitas vezes passada por gerações e, mesmo não tendo animais, galpões ou comida pras vacas, ainda há vontade de seguir.

Seu Elói e Dona Dulce viveram o pior dia de suas vidas há um mês. 130 vacas morreram afogadas. No galpão de produção, restou apenas lodo nas estruturas e um silêncio que antes era preenchido pelo som dos animais. A casa deles também foi perdida. A ideia é recomeçar no leite, mas não ali.

Elói Wermann, produtor de leite:
“A gente viveu aqui, vamos dizer, em três gerações. Apostamos em genética das vacas. Agora estávamos em um patamar onde queríamos chegar e, de repente, sentados em cima da laje de uma casa, vendo aquilo ir embora sem poder fazer nada, mãos atadas. Foi o pior cenário para mim. Não vou esquecer. Foi muito cruel.”

Dulce Wermann, produtora de leite:
“A hora que a gente saiu foi quando vi que elas estavam morrendo afogadas. Foi o pior momento. Algumas estavam penduradas, tentando sobreviver, não morrer afogadas.”

Socialmente e economicamente, a produção de leite no Rio Grande do Sul é de grande relevância e está presente em quase todos os municípios. Aproximadamente 40 mil propriedades têm a atividade leiteira como fonte de renda. A maior produção está no Noroeste, seguida da Serra e, em terceiro lugar, no Vale do Taquari. O estado concentra um rebanho de 1 milhão de bovinos e produz 4,3 bilhões de litros de leite por ano.

Segundo a Emater, 2.451 vacas morreram e 7 mil produtores foram prejudicados pelas enchentes, com mais de 9,6 milhões de litros não coletados. Este impacto será sentido na economia das cidades.

Cristiano Laste, diretor regional da Emater Lajeado/RS:
“O leite é um dinheiro que vem rápido, gira muito rápido. Ele tem muito repique na cidade. O produtor recebe do leite na metade do mês e já faz compras, paga combustível e isso impacta na economia dos municípios. Além de perder a produção, ele acabou perdendo muito do investimento na propriedade.”

De acordo com a Radiografia da Agropecuária Gaúcha, o leite é o 5º produto de maior importância no valor bruto da produção, somando 7,6 bilhões de reais no VBP. O estado exporta para 45 países, sendo o terceiro maior exportador do Brasil. A produção de leite é realizada principalmente por pequenas famílias que dependem diretamente dessa atividade para se manterem no campo. Mas, diante das sucessivas crises enfrentadas pelo setor, está cada vez mais difícil prosseguir.

Rogério Heemann, presidente do Sindicato Rural de Estrela/RS:
“Muitos produtores encerraram as atividades por a atividade não ser mais lucrativa. O leite sempre representou muito para o nosso agricultor. É uma renda mensal. Às vezes, produzindo com custo maior, ele ficou no meio rural. Então, hoje isso significa uma perda na rentabilidade do produtor e, consequentemente, a cidade vai sentir esses efeitos também.”

Nas propriedades, além da falta de comida para os animais e o cenário de destruição, traumas devem se repetir por anos.

Leonardo Franz, produtor de leite:
“Arroio do Meio, Estrela, Lajeado e toda região aqui dependem do leite. Então, isso vai ser difícil.”

Elói Wermann, produtor de leite:
“A decisão que tomamos foi que, aqui, não mais. Mas o interesse existe. Se conseguirmos uma área alta, de repente a gente inicia de novo.”

Dulce Wermann, produtora de leite:
“Essas cenas nunca vamos esquecer. É horrível.”

Sair da versão mobile