Animais saudáveis enfrentam bem o inverno. Protegê-los do frio intenso é uma necessidade que passa por cuidados que se deve ter antes da chegada da estação. Além da boa saúde e da condição corporal adequada, a existência de reservas de gordura no corpo do animal influenciam na sua capacidade de produzir calor e, assim, o rebanho consegue enfrentar o frio sem sofrimento e sem acarretar prejuízos para o criador.
Uma boa alimentação e cuidados com a saúde são as duas condições para manter os animais com alto escore corporal. A afirmação é de Haroldo Pires de Queiroz, zootecnista da Embrapa Gado de Corte: “A disponibilidade de forragem de 2 ou 3 toneladas por hectare de matéria seca (MS) por hectare para cada Unidade Animal (UA) é indispensável para o bovino manter uma boa condição corporal”, diz. Ele também ensina que, caso a pastagem esteja com a proteína abaixo de 7%, como acontece a partir do mês de maio, é preciso oferecer um suplemento alimentar de 150 a 200 g/cab/dia de sal proteinado ou de mistura múltipla. Abaixo a sugestão de dieta do especialista:
- Sal proteinado
Ingrediente / quantidade
Milho triturado – 52 kg
Farelo de soja – 28 kg
Ureia 9:1 sulfato de amônio – 8 kg
Mistura mineral completa (90g/kg de P) – 7 kg
Sal branco – 5 kg
- Mistura múltipla
Ingrediente / quantidade
Milho triturado – 58 kg
Farelo de soja – 32 kg
Ureia 9:1 sulfato de amônio – 1,3 kg
Mistura mineral completa (90g/kg de P) – 8,7 kg
Além disso, para enfrentar o frio ele sugere oferecer aos animais acesso a bosques com diâmetro superior a 40 metros e se for o caso oferecer ração emergencial de quatro quilos de milho / cab. / dia aos animais magros e muito magros quando as temperaturas chegarem aos 15 °C com previsão de baixa, ventos e chuva.
Queiroz reforça que no período seco deve-se garantir a alimentação normal do rebanho fornecendo forragem em quantidade de 2% de MS ao dia acompanhada de sal/ureia, sal proteico ou mistura múltipla a todo o rebanho.
No caso de geada, o zootecnista aconselha acelerar o consumo da forragem desidratada nas áreas onde a geada queimou o pasto, aumentando a lotação nessa área.
Ele sugere 10 a 20 animais adultos por hectare vindos de outras áreas da fazenda, e fornecer sal com ureia para aumentar o consumo diário e a digestibilidade da forragem. “O objetivo é consumir o máximo da forragem desidratada pela geada antes que ocorram chuvas e a forragem se deteriore pelo ataque de fungos”, explica. É recomendação do especialista: “Para cada 20 quilos da mistura mineral completa adicione 18 quilos de ureia pecuária e dois quilos de sulfato de amônio, misture e sirva nos cochos de sal. O consumo esperado desta mistura de sal com ureia é 120g/UA/dia”.
Consequências do frio intenso e da geada para a pecuária
São várias e desastrosas as consequências do frio intenso e da geada, caso o produtor não tome algumas providências antes e durante o inverno. Entre elas, a interrupção de produção da forragem com a seca somada ao frio. Outra é a desidratação do pasto seguida de deterioração em caso de geada podendo se deteriorar completamente pelo ataque de fungos se, em seguida, chover.
Segundo Queiroz, para os animais o risco de hipotermia ocorre com maior intensidade nos azebuados com condição corporal três ou menor (escala de nove) ou 1/2 na escala de 5, sem acesso a abrigo e suplemento energético, sob chuvas e ventos acima de 15 km /h após queda brusca de temperatura abaixo dos 10°C.
Uma das formas de prevenir prejuízos e proteger o rebanho é monitorar o clima procurando saber os riscos de frio intenso e geadas.
Risco de morte
A queda brusca da temperatura combinada com ventos frios pode extrapolar a capacidade dos animais produzirem calor corporal, levando à hipotermia e até a morte. “Se o animal for zebuíno (menos adaptado ao frio), magro (sem reservas de gordura para queimar e produzir calor), não dispuser de abrigo nem de suplementos energético de emergência e seu corpo ficar molhado pelas chuvas, o risco de vida é muito alto”, alerta o zootecnista Queiroz.
Animal velho tem menor capacidade de responder ao frio, e, também, corre risco.
Para socorrer os animais contra a hipotermia, Queiroz sugere oferecer um alimento energético que pode ser o milho ou o sorgo triturado, farelos como o de trigo e arroz, dentre outros. A dose diária a ser fornecida é de 1 quilo de alimento para cada 100 quilos de peso vivo do animal.
O que é comum nesse período de frio é animais serem acometidos com doenças respiratórias, aponta Pedro Paulo Pires, pesquisador e médico-veterinário. Segundo ele os riscos são grandes principalmente para os bezerros: “Já constatamos mortandade de animais em boas condições de peso nessas viradas de temperatura. Tanto os animais podem morrer de frio, como podem ficar doentes pela queda rápida da imunidade. A água gelada prejudica a saúde dos animais, pode perturbar a digestão (proliferação de microrganismos),causar emagrecimento e má nutrição”.
Pedro Paulo diz que podem ocorrer doenças bacterianas, viróticas e nutricionais. “Os cuidados devem ser com o manejo, nunca causar mais estresses como desmame, troca de pastos, troca de alimentos e sempre procurar protegê-los dos ventos e chuvas frias”, alerta.