Dez vacas cobertas pelo mesmo touro pariram bezerras, no município mineiro de Ubaí. De acordo com o pecuarista Messias Matos, nenhuma das montas deste reprodutor, entre setembro de 2018 a janeiro deste ano, deu origem a um macho.
“E não foram fruto de inseminação artificial“, afirma o produtor, referindo-se à técnica que permite manipular a genética e até mesmo determinar o sexo dos animais.
Segundo o professor de fisiologia da reprodução na Universidade do Texas, Rodolfo Cardoso, o caso é incomum. “É normal ter uma variação na distribuição do sexo das crias, entre 40% e 60%”, afirma.
O processo de reprodução é simples: a vaca contribui sempre com um cromossomo X. Já o touro pode contribuir com outro cromossomo X, o que faria do feto uma fêmea, ou um Y, produzindo um macho. Assim, as chances para ambos os sexos são iguais.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Gado de Corte Luiz Orcirio, inúmeros fatores podem interferir, de forma isolada ou conjunta, para este resultado.
“O pH vaginal não ideal pode prejudicar à sobrevivência dos espermatozoides Y, favorecendo a permanência daqueles com cromossomo X, que são mais resistentes”, diz Orcirio. O especialista ressalta que esta alteração no pH pode ter relação com a alimentação dos animais.
O comportamento de monta dos touros também pode influenciar. Quanto mais distante o momento entre a ovulação e a monta, maiores são as chances para o espermatozoide X fecundar, pois são mais resistentes e conseguem sobreviver por mais tempo. “O espermatozóide Y é menor e mais ágil, porém, tem menores reservas. Podem chegar mais rápido ao local de liberação do óvulo e fertilização, mas se não o encontram, não conseguem resistir por muito tempo”, afirma.
O pesquisador aconselha o produtor a ficar atento quanto às variações ambientais que modificam o comportamento de apresentação de cio das vacas e as características individuais dos touros, relacionadas às condições do líquido seminal e dos espermatozoides.
No campo, esses touros que têm uma variação de reprodução muito além do esperado são chamados de “femeiros” ou “macheiros”. Se o pecuarista deseja ter mais machos, “talvez seja o caso de rever realmente a possibilidade de substituição do touro”, diz o pesquisador da Embrapa.