A operação Carne Fraca, deflagrada na sexta-feira, dia 17, pela Polícia Federal (PF) e que revelou um esquema de fraudes na fiscalização da proteína animal entre frigoríficos e fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura, ainda tem poucos reflexos sobre os preços da carne bovina no país, mas a repercussão sobre a comercialização de animais e de carne é relevante. Operadores ouvidos pela reportagem apontaram que o mercado segue esvaziado desde a deflagração da operação, mas essa falta de negócios deve ser interrompida entre quarta e quinta-feira desta semana.
“No caso do boi gordo, observamos que, embora exista uma pressão baixista no mercado (de compra e venda de animais), não se verificou uma queda efetiva nos preços da arroba. Isso é justificado pelo recuo dos compradores, os frigoríficos. Eles estão abatendo os animais que já estavam em estoque, mas aguardam uma definição do mercado para se posicionar em relação a novos negócios”, disse o diretor-técnico da Informa Economics, José Vicente Ferraz. Em São Paulo, a Informa verificou estabilidade na cotação do boi gordo em relação a ontem, com a arroba negociada a R$ 146 à vista.
“Ainda hoje, as compras estão quase que virtuais, por causa da incerteza em relação à operação e como a demanda por exportação vai responder”, afirmou Alcides Torres, diretor-fundador da Scot Consultoria. O profissional apontou que, apesar da operação da PF, a demanda por carne no mercado interno já era “baixa, mas estável”, o que fará com que compradores voltem ao mercado ainda nesta semana. “Esse breque que os frigoríficos estão dando na segunda e terça-feira vai ter uma consequência, porque os seus estoques de carne bovina, que já estavam baixos, continuam a ser escoados, porque o consumo interno continua. Assim, uma hora eles terão de voltar ao mercado. Se o pecuarista não entrar em pânico agora (e ceder nos preços), o frigorífico vai ter de pagar um preço melhor mais para a frente.” De acordo com a Scot, a arroba do boi gordo na praça de Araçatuba, no interior paulista, ficou estável em relação a ontem, a R$ 145.
Já a XP Investimentos indicou, em relatório de acompanhamento diário, um recuo médio de R$ 0,21 pela arroba do boi no mercado paulista. “Boa parte dos frigoríficos ainda não abriu os balcões para novos negócios e segue abatendo só o que foi programado ao longo da semana passada. A parte das indústrias que saiu às compras veio com reduções significativas de (compra em) balcões. Pecuaristas ainda estão em busca de novidades, mas já começam a ceder”, diz o documento. O levantamento da XP mostra que a arroba do boi gordo ficou em R$ 143,64, de R$ 143,85 no dia anterior.
No mercado atacadista, por sua vez, a Informa verificou uma queda de R$ 0,10 por quilo na comparação ao preço registrado ontem, com o traseiro bovino negociado a R$ 11,50/kg. “É difícil isolar o efeito da operação nessa queda, mas é provável que tenha algum reflexo”, afirmou o diretor-técnico da consultoria. Já a Scot relatou estabilidade nos cortes traseiro e dianteiro do boi, a R$ 11,60 e R$ 8/kg, respectivamente. Os preços também ficaram estáveis na apuração da XP no atacado (R$ 9,60/kg). “O boi casado ainda é comercializado com média (entre varejo e atacado) de R$ 9,77/kg, mas informantes reportaram quedas intensas nas vendas de atacado e varejo desde o acontecimento (operação Carne Fraca) e já cogitam ideia de quedas de preço e até ‘promoções’ para alavancar as vendas”, aponta o relatório.