Nos pampas gaúcho, uruguaio e argentino, os criadores privilegiavam apenas a morfologia na seleção dos animais, enquanto no Chile o esforço era por lapidar uma linhagem que, se pecava nos critérios estéticos, compensava em quesitos como agilidade e potência.
– Até as décadas de 1960 e 1970, a preocupação era somente com morfologia. Os animais nem eram domados e eram gordos. Bastava serem puxados. Tinham um comportamento bovino – lembra José Antonio Marques Fagundes, ex-presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC).
A mudança na mentalidade dos selecionadores gaúchos, avalia Rodrigo Albuquerque Py, veterinário, criador e técnico da ABCCC, iniciou-se com a introdução do sangue chileno no Estado e, nos anos seguintes, com o surgimento do Freio de Ouro, que chega à 31ª edição neste ano. A mais importante competição da raça, ao mesmo tempo que exigiu uma melhor performance funcional dos animais com a contribuição da genética chilena, não abriu mão da beleza dos concorrentes.
– Não existe um ganhador do Freio de Ouro feio ou ruim. Todos são bons e bonitos. Essa foi a pressão de seleção que o Freio fez – afirma Py.
A reunião de qualidades mudou o biotipo do crioulo. Antes era um animal mais curto, de formato mais quadrado, como definem os criadores, além de ter uma frente mais pesada em relação à parte posterior. Ao longo últimos anos, a evolução moldou no cavalo símbolo do Estado um aspecto que pende para o retangular, de pescoço mais leve e garupa mais musculosa, característica que facilita os movimentos exigidos nas provas do Freio de Ouro.
– Houve uma lapidação nas características morfológicas neste cavalo de anos atrás, sem perder as características básicas da raça de rusticidade, resistência e poder de recuperação – lembra Ricardo Borges, vice-presidente técnico da ABCCC.