Consumo de carne bovina na Argentina cai para o menor nível em 50 anos

Ministério da Agricultura do país aponta queda de 27%O consumo de carne bovina na Argentina já é o menor dos últimos 50 anos. De um consumo per capita de 73,1 quilos em 2009, o maior do mundo, o país registra neste ano 53,3 quilos por habitante, uma queda de 27%. Nem durante a crise econômica de 2001 os argentinos comeram tão pouca carne. Naquele ano, quando o desemprego chegou a 17% e a pobreza atingiu mais da metade da população, o consumo da proteína bovina chegou a 64 quilos por pessoa. A queda do consumo já havia sido alertada pela indústria,

Os argentinos não deixaram de adorar o “asado” (churrasco), o “lomo” (filé) ou os bifes à milanesa. O problema é o preço, que começou a subir em 2009, como consequência direta da política de restrições às exportações com controle de preços ao produtor, iniciada em 2006, e a pior estiagem das últimas décadas, em 2008 e 2009. O rebanho encolheu brutalmente, de 58 milhões de cabeças, em 2007, para cerca de 48 milhões atuais. Essa diferença de 10 milhões de cabeças a menos foi efeito, em parte, do abate de fêmeas em idade reprodutiva.

Sem estímulos para continuar na atividade pecuária, os produtores optaram pela venda e abate sistemáticos das fêmeas, e decidiram migrar para cultivos rentáveis como a soja. O resultado começou a ser sentido no bolso, o consumidor pagava uma média de 21 pesos pelo quilo da costela, em 2009, e agora desembolsa 31 pesos, um aumento de 47%. O filé saltou de 26 pesos para quase 50 pesos (+92%), enquanto o bife para milanesa, por exemplo, aumentou de 29 pesos para 39 pesos (+35%), conforme dados do Instituto de Promoção de Carne Bovina Argentina (IPCVA, pela sigla em espanhol), sobre os preços de setembro.

Abate
De acordo com o Consórcio de Exportadores de Carne Argentina, o abate recuou dos 16 milhões de animais em 2009 para estimados 10,5 milhões de cabeças em 2011. As exportações de carne bovina devem ser de apenas 260 mil toneladas neste ano. O volume é 66% menor que as 770 mil embarcadas em 2005, último ano antes das restrições ao comércio exterior, e 48% menor que as 500 mil toneladas vendidas em 2006, primeiro ano das barreiras. As exportações de 2011 serão bem inferiores também ao volume exportado em 2009, de 650 mil toneladas.

Em 2011, com condições climáticas favoráveis e preços melhores, os produtores começaram a formar um novo estoque, um trabalho lento, que exige constância para engordar os animais.

? O país precisa de seis anos para recuperar o rebanho perdido e esse trabalho só será realizado se as condições atuais forem mantidas ? afirmou Fernando Canosa, analista do setor.

Miguel Jairala, analista econômico do IPCVA, tem a mesma opinião e explica que o animal precisa de três anos para atingir o peso ideal de abate. Segundo ele, os animais que começaram a nascer após a seca e o descarte generalizado de fêmeas só estarão prontos para o abate em 2013.

? Os frigoríficos vão continuar enfrentando o problema da falta de animais por mais dois anos ? disse Jairala.

Em 2009, nasceram 11,5 milhões de novilhos e em 2010, 11,4 milhões. Para este ano, o IPCVA evita não projetar um número, mas o analista do órgão lembrou que as condições climáticas da primavera de 2011 serão muito melhores.

? Isso vai favorecer um maior número de nascimentos que nos dos dois anos anteriores, o que vai permitir a normalização da produção de carnes a partir de 2013. Mas até lá a indústria está trabalhando com três milhões a menos de bezerros para o abate ? concluiu o analista.