Quem necessita, hoje, de um financiamento da linha de caprinos e ovinos em São Paulo deve apresentar um projeto técnico e obedecer a algumas regras. O teto disponível pra cada produtor é de R$ 100 mil, que pode ser usado para a compra de matrizes e reprodutores para melhorar a estrutura da propriedade.
São sete anos pra pagar, sendo os dois primeiros de carência. O juro é de 3% ao ano. O governo exige uma garantia de 100% do valor do financiamento. O criador precisa comprovar que a área da propriedade não passa de oito módulos – em média, 240 hectares -, não pode ter renda superior a R$ 600 mil por ano e tem que garantir que 80% desta renda são da atividade agropecuária.
Essa última exigência talvez seja a única que os produtores gostariam que fosse mudada nas regras do financiamento. Segundo a associação dos produtores, boa parte de quem trabalha com estes animais possui outras atividades. São profissionais liberais, como dentistas e advogados que não têm a principal renda desta atividade. Flexibilizar esta regra, segundo os criadores, seria uma forma de aumentar a abrangência dos produtores que precisam do financiamento.
De acordo com o secretário executivo da Feap, Fernando Penteado, a mudança está em estudo.
– A gente está estudando a possibilidade de flexibilizar este percentual de 80%. Não teria como reduzir muito, mas a gente pode chegar a uns 60% ou 70%. A gente tem que avaliar ainda – afirma Penteado.
Incentivo aos criadores
A intenção este ano é estimular mais o produtor. No ano passado, poucos usaram o recurso. Apenas 17 contratos foram feitos. Dos R$ 6 milhões disponíveis, nem R$ 1,4 milhão foram usados. A associação dos produtores tem uma explicação para a pouca procura.
– Praticamente todos os criadores já possuem esta linha de crédito. Somente os novos ou aqueles que ainda não haviam tomado, que querem talvez investir no aumento de plantel ou infra-estrutura na propriedade estão buscando. Esta é a justificativa de ter diminuído a demanda pela linha de crédito – afirma o presidente da Associação Paulista de Criadores de Ovinos (Aspaco), Arnaldo dos Santos.
A burocracia no banco também pode ter influenciado o desempenho do programa. Até 2010, os contratos eram feitos na Caixa Econômica Estadual. Agora, são no Banco do Brasil. Penteado diz que a transição ainda está sendo ajustada pra facilitar para o produtor.
– Estamos alinhando com o banco procedimentos para que o processo seja mais célere. E, além disso, treinamento com os funcionários da casa da agricultura foram contratados novos recentemente, e também com os gerentes de banco pra eles terem maior expertise nas linhas do Feap – garante Penteado.
A meta da Secretaria da Agricultura é usar os R$ 6 milhões disponíveis para os criadores, atendendo também os médios produtores.
– O primeiro passo que nós já tomamos foi ampliar o limite daqueles que podem solicitar o recurso, de R$ 400 para R$ 600 mil de renda bruta. Flexibilizamos as garantias, diminuímos de 150% para 100%. Então isso já é um alento. No entanto, o que ainda falta é que o produtor tenha interesse pela própria atividade e tenha absoluta certeza de que entrando na atividade, investindo, melhorando a parte de pasto, a parte de manejo e a parte genética, que ele tenha um retorno do seu investimento – diz a secretária de Agricultura de SP, Mônika Bergamaschi.
Não fosse um financiamento, o produtor Bruno Moreira não teria começado a criar ovelhas há 14 anos. Na época ele, pegou no banco R$ 15 mil para comprar as matrizes. Deu certo o negócio, e tempos depois ele precisou ampliar o plantel. Comprou reprodutores também. Foram mais R$ 100 mil negociados no banco.
– É uma oportunidade de o criador e produtor investir na sua melhora de qualidade dos animais, que foi o meu caso, e naqueles que criam carne, investir em matrizes pra produção de carne sem se descapitalizar e tendo tempo pra fazer isso girar e poder pagar este empréstimo – diz Moreira.
O pecuarista, que cria ovelhas da raça suffolk, tem 70 animais numa propriedade em Platina, a 450 quilômetros de SP. Doze exemplares ele levou para a Feira Internacional de Caprinos e Ovinos (Feinco), que acontece esta semana em São Paulo.
O presidente da Aspaco, Arnaldo dos Santos, atribui o crescimento do setor à linha de financiamento criada pela Secretaria da Agricultura. O programa tem mais de 10 anos e usa recursos do Fundo de Expansão da Agricultura Paulista (Feap). O rebanho no Estado hoje passa de 550 mil animais, o que representa o dobro do que era há duas décadas.
– A gente não tinha praticamente nem uma linha de crédito. Então os recursos eram só recursos próprios e essa linha veio atender bastante. Hoje nosso rebanho cresceu demais no Estado, e muito isso devido a essa linha – declara o presidente da Aspaco.
– Como eu já fiz duas vezes, a gente acaba aprendendo o caminho das pedras. Eu acho que precisa mais divulgação, precisa mais orientação ao produtor pra que ele vá até a agência que fomenta este tipo de coisa e aí ele tenha acesso mais fácil e um financiamento mais fácil – diz Bruno Moreira.
Para obter o financiamento o produtor deve procurar a casa da agricultura do município onde mora e dar entrada na documentação numa agência do Banco do Brasil.