? A proposta de Kaefer é ‘firme’. Se formos analisar as notícias que surgiram do setor há um mês, inclusive aquelas que envolvem os principais players (JBS, Marfrig e Minerva), elas não são encorajadoras. O momento é de cautela para o setor ? afirmou o advogado do Independência, Giuliano Colombo, do escritório Mattos Filho, antes da apresentação da nova proposta da empresa do deputado federal Alfredo Kaefer, também proprietário do frigorífico de aves Diplomata e da rede curitibana de supermercados SuperDip.
? A situação não está boa para nós. Com os três maiores frigoríficos muito endividados, reduzimos ainda mais a possibilidade de algum deles vier a fazer uma proposta para o Independência. Daqui a pouco não teremos para quem vender os nossos bois ? disse um pecuarista que preferiu não se identificar.
A Alfredo Kaefer & Cia. Ltda já tinha enviado uma sugestão de compra de todos os ativos do Independência por R$ 250 milhões, cobrindo apenas 35% do valor avaliado pela companhia e que consta no edital do leilão, de R$ 706,22 milhões. Nesta segunda, a empresa, juntamente com Unibrax Investimentos e Participações, companhia do advogado Edilso de Oliveira, representante da Alfredo Kaefer Cia, disse que pagaria o valor avaliado em até 30 anos, mas que privilegiaria os credores dos notes de US$ 165 milhões com vencimento em 2015 e que haveria deságio para pagamento de outros credores.
A Agência Estado teve acesso à proposta da Kaefer-Unibrax. Nela, os deságios chegam a 92,72% – caso da proposta de pagamento aos credores detentores de notas substitutivas, com vencimento em 2016, de dívidas totais de R$ 514,9 milhões. O maior prazo de pagamento sugerido foi de até 2041 para credores como pecuaristas, Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACCs), notas de 2016 e fornecedores. A proposta também previa um cronograma de fluxo de caixa, com reversão de um prejuízo líquido de R$ 2,806 bilhões em março de 2012 para um resultado líquido de R$ 1,062 bilhão em abril do ano que vem.
? Nós estamos aqui perdendo tempo com propostas como essa, indecente ? afirmou o pecuarista Silvio Flores, que participou da assembleia.
Além das condições que não foram suficientes, houve resistência por parte dos credores com relação à capacidade de endividamento e pagamento de Kaefer.
Com a rejeição de todas as propostas de venda de ativos em leilão judicial, volta a vigorar o pagamento aos credores previsto no plano original, cujas parcelas foram quitadas até novembro do ano passado. De um total de 24 parcelas mensais para quitação de dívidas de pecuaristas e fornecedores, foram pagas até o momento apenas seis. Para outros credores financeiros estão previstos pagamentos de juros semestrais que também foram suspensos no mesmo período.
Entretanto, o que se comenta é que o Independência não terá condições de voltar a realizar pagamentos sem a venda de ativos ou de um aporte de capital.
? Ainda é de interesse da recuperanda a alienação ordenada ? ressaltou Colombo.
A intenção dos advogados do Independência é convocar uma assembleia para discutir uma nova proposta de pagamento aos credores, evitando assim, a falência do frigorífico. Um edital para o encontro poderá ser divulgado em, no mínimo, 15 dias.
Pecuaristas
Na assembleia anterior à desta segunda, os credores pecuaristas já haviam sugerido a transferência – via venda ou dação – de uma ou mais unidades produtivas a eles. Os pecuaristas gerariam esses ativos, colocando-os em operação e com o dinheiro oriundo das atividades dessas unidades, o pagamento aos credores seria feito aos poucos. Essa proposta foi novamente citada na reunião desta segunda.
? Podemos fazer essa proposta na próxima assembleia, o que achamos conveniente, já que atualmente não há comprador (terceiro) para o Independência ? disse um pecuarista.
Porém, a concordata do Independência não é descartada. Segundo fontes da Agência Estado, nesta terça, dia 4, serão protocolados no Fórum de Cajamar (SP) mais de 20 petições de falência do frigorífico, a maioria por parte de pecuaristas. O futuro do Independência dependerá, então, da juíza Adriana Nolasco, que pode determinar a qualquer momento a concordata do frigorífico ou aceitar a eventual nova convocação de assembleia que tentará, mais uma vez, elaborar uma proposta para pagamento aos credores.