Delicatessem Pescado valoriza carne de peixe da região amazônica

Pesquisador e empresário mostra a produtores do Acre técnicas para fabricação de farinha e outros alimentosA tradicional piracuí, farinha que os índios e ribeirinhos do Pará e Amazonas produzem utilizando a carne do peixe bodó, que contêm 70% de proteína, a torna um dos alimentos mais nutritivos. A farinha é muito procurada, mas produzida em quantidade  insuficiente para atender às necessidades do mercado. O produto oferece aos piscicultores uma boa alternativa para agregar valor à carne de pescado.

O engenheiro de pesca Nilson Luiz Aguiar de Carvalho, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) do Amazonas vem dedicando sua vida ao desenvolvimento de novos produtos a partir da carne e resíduos do pescado dos rios e pisciculturas da região. Seus mais de 20 anos de estudos o levaram a um mestrado e um doutorado, mas também a uma decepção: o pequeno interesse dos empresários locais em investir em produtos alternativos que, ao caírem no gosto dos consumidores, geram emprego e renda para as pessoas. Nilson veio ao Acre para falar sobre essas técnicas a produtores locais.

Essa constatação fez com que ele e a esposa decidissem investir o próprio dinheiro na criação da empresa Delicatessem Pescado, o que lhe rendeu três prêmios nacionais e um internacional. O empresário acaba de ser indicado para o prêmio Natura, de São Paulo, pelo trabalho alternativo de valorização do pescado amazônico.

? Pesquisas com alimentos precisam ser realizadas em parceria com a indústria e o mercado, para que seus resultados não sejam condenados a permanecer nas estantes das instituições, sem chance de chegar à população. O consumo da carne de peixe cresce todo ano e a oferta da natureza é cada vez menor. É preciso estimular as criações e combater o desperdício utilizando toda a carne e resíduos para que a população possa ser bem alimentada ? afirma Nilson.
Quibe e salsicha

Na Delicatessem são produzidos quibe, almôndega, lasanha, bife, salsicha e pirarucu defumado, numa série de mais de 20 produtos, que são vendidos diretamente aos consumidores.

? Hoje mal conseguimos atender à demanda. Há, inclusive,  propostas de fornecimento para redes de supermercados, que ainda não abraçamos porque o mercado do pescado necessita de organização para garantir o abastecimento em escala industrial ? reconhece Nilson, lembrando que entre apresentar seus produtos e conquistar a confiança dos consumidores para chegar onde está foram 12 anos de muito trabalho.

Ele  esclarece que a maioria das pessoas acha que basta industrializar um produto para que se consiga agregar valor a ele, mas não é bem assim, segundo Nilson constata durante seu trabalho de pesquisa, desenvolvimento de produtos e contato com os consumidores.

? Valor agregado é garantir a satisfação de quem vende e de quem compra. Isso não é fácil porque você precisa conciliar o seu custo de produção para oferecer um produto com preço justo e, ao mesmo tempo, cair no gosto dos consumidores que tenham condições e disposição para pagar esse preço.

Produtos alternativos

Nilson esclareceu aos piscicultores que a carne de peixe para fazer farinha deve ser magra porque a gordura acelera a deterioração do produto final. Ele explicou que é justamente por isso que ribeirinhos e índios preparam a farinha a partir do bodó, cuja carne é muito boa e contém pouquíssima gordura.

Nilson veio ao Acre a convite da coordenadora do projeto de Fortalecimento da Piscicultura pelo Sebrae no estado, Rina Suarez.

? Os resultados deste projeto do Sebrae para o fortalecimento da piscicultura está sendo comprovado pelo aumento constante na produção de carne com qualidade. Melhoramos também o sistema de abate, conservação e conquistamos cada vez mais consumidores. Estamos atingindo a capacidade de consumo da carne fresca pelo mercado local. É hora de buscar novos mercados e criar produtos que venham agregar valor à carne do pescado produzido no Acre ? afirma Rina.

O pesquisador esclareceu aos piscicultores que a carne da maioria dos peixes pode ser transformada em farinha. Durante o treinamento, assou dois tambaquis e, depois de retirar sua carne, preparou a farinha, que foi testada e aprovada pelos mais de 20 produtores que participaram do treinamento.

? A farinha de peixe é um dos alimentos mais nutritivos e procurados do mundo, seja para fazer ração para animais como para a alimentação de pessoas ? afirma Nilson.

O produtor também ensinou como preparar uma silagem de pescado para utilizá-la no preparo de ração para os próprios peixes e outros animais. Mostrou como preparar uma conserva de peixe para consumo in natura acompanhando saladas ou como aperitivo.
Apresentou a utilização dos resíduos de pescado como adubo para a agricultura e ainda o uso do couro de peixe curtido para a fabricação de bolsas, carteiras, sapatos e outros acessórios muito procurados no mercado.