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Em Gurupi, sul do Tocantins, é comum ver cavalos sendo treinados para as competições de três tambores. A tropa do município soma mais de 2.700 equinos. No haras de Vinicius Messias, por exemplo, tem treinamento todos os dias. Mas a doma só começa depois que o cavalo passa pelo dentista.
– Desde que eu comecei a treinar cavalo eu sei disso, desde 2009 pra cá sempre os proprietários dos cavalos eu sempre peço pra eles antes de começar a doma olhar os dentes, se tiver dente de lobo tirar – conta o treinador Leandro Lopes Pereira.
Problemas como dente de lobo, de tão pequenos podem até passar despercebidos para tratadores e proprietários menos experientes. Mas para os animais, chega um momento em que ele começa a incomodar e a única solução é extrair.
– O dente de lobo é muito complicado, tem que tirar porque é um dente pequeno, de raiz pequena e a embocadura pega diretamente nele. Assim que a embocadura pega nele, dá um choque e causa muita dor no animal. Às vezes o proprietário pensa que é manha do animal, mas não é. É dor mesmo que ele está sentindo – explica a médica veterinária Damiane Garcia.
O procedimento correto requer tronco de contenção, anestésico e equipamentos específicos como abridor de boca, espátulas e boticão. A partir do primeiro ano de idade a dentição dos cavalos já deve começar a ser observada. Cerca de 95% dos equinos apresentam o dente de lobo. Além disso, com o desgaste natural dos pré-molares e molares vão surgindo pontas muito finas nas laterais dos dentes que cortam a bochecha e a língua. Essas feridas, entre outras coisas, atrapalham a ingestão de alimento e o animal pode até perder peso.
Para resolver o problema das pontas, que são muito pequenas e afiadas, é preciso lixar os dentes pontiagudos, liberando a oclusão da mordida do animal. A correção deve ser feita de seis em seis meses em animais jovens, e uma vez por ano nos adultos. Segundo a veterinária, além do comportamento agressivo durante o uso da embocadura, cavalos que têm problemas de dentição não conseguem mastigar o alimento direito, deixam a comida cair da boca e consequentemente não tiram todo proveito da nutrição.
– Às vezes o proprietário fala: eu dou ração boa, faço suplementação, meu animal é bem cuidado, mas não engorda. É porque ele acaba perdendo muito alimento na boca, não consegue ter uma absorção boa e, assim, não consegue engordar. Já aconteceu de eu pesar animal de um mês depois que a gente fez o tratamento odontológico que engordou quarenta quilos – conta Damiane.
Vinicius Messias cria cavalos há mais de 15 anos, mas começou a se preocupar com a dentição dos animais apenas há cinco. Até então, ele nem imaginava que a origem dos problemas de comportamento estava na boca dos cavalos.
– Pensava que era manha, ou que era doma mal iniciada, nem imaginava que seria essa parte da dentição. É visível a diferença, o cavalo melhora muito pra trabalhar. Ele para com aquela agonia, com a abrição de boca, para de ficar batendo a cabeça – diz o dono do haras.