O diretor da Bigma Consultoria, Maurício Nogueira, considera que as informações levantadas pela expedição mostram que a pastagem, assim como outros produtos agrícolas, deveria ser tratada como safra, com programas de crédito, entre outras iniciativas.
O levantamento entre os produtores mostrou que 75% desejam reformar o pasto. A maioria deles, 49%, quer reformar de 10% a 30% de suas áreas. No campo, contudo, o Rally verificou que 12% das áreas visitadas precisavam de reforma por causa do avançado estado de degradação. Outros 18% que ainda estão em processo de degradação poderiam ser recuperadas com tecnologias adequadas. A recuperação de pastagens custa cerca de 60% da reforma.
Cálculos da Agroconsult/Bigma mostram que seriam necessários cerca de R$ 50 bilhões para financiar a reforma e recuperação das pastagens no país. Um dos programas existentes para esse fim, o de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), com juros de 5,5% e recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tem previstos R$ 3 bilhões, mas o dinheiro é dividido entre várias atividades.
Dados levantados pelo Rally mostraram, ainda, que as fazendas pesquisadas tinham lotação média de 1,58 animal por hectare, ante 1,22 na média brasileira. O rebanho total amostrado foi de 1,3 milhão de cabeças em 796 mil hectares. Dos pecuaristas pesquisados, 46% fazem o ciclo completo (cria, recria e engorda), 22%, cria e 12,5%, engorda. Os organizadores esperavam um porcentual maior na cria e atribuíram a preferência pelo ciclo completo ao desejo do pecuarista de ter maior escala.
? O produtor está coordenando melhor o ciclo e o Rally confirmou uma tendência de mudança de perfil ? afirma Nogueira.
Venda futura
Outro dado que surpreendeu os participantes foi o de que 22% dos produtores pesquisados usam algum tipo de venda futura dos animais, seja em contratos a termo (54%) com frigoríficos, seja com o uso de derivativos, como contratos futuros (14%) e de opções (31%). Conforme o diretor da Agroconsult, André Pessôa, o dado é animador. Ele aponta que isso mostra um início de sofisticação nas estratégias de comercialização dos animais.
Maurício Nogueira, da Bigma, ainda lembra que para realizar venda futura o produtor precisa saber qual seu custo de produção, informação que muitas vezes o pecuarista desconhece.
? Cerca de 30% dos entrevistados disseram conhecer seu custo, embora não tenham revelado o valor ? comenta.
Pessôa ainda lembra que o índice de utilização de instrumentos de venda futura entre os pecuaristas supera os verificados na agricultura em geral, com algumas exceções nos segmentos de soja e algodão. Ambos ponderaram que a amostragem dos produtores que concederam informação para o Rally é de, provavelmente, pecuaristas que estão acima da média do mercado brasileiro. Alguns resultados da expedição, alertam as consultorias, não podem ser extrapolados para nível nacional.
Oito equipes do Rally percorreram mais de 30 mil quilômetros de nove Estados que representam 75% do rebanho e 85% da produção de carne bovina do país ? Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Pará, Tocantins, Rondônia e Paraná. Um dos objetivos da expedição é criar uma base de dados sobre a pecuária, setor carente de informações técnicas. Os resultados serão apresentados em Brasília, no próximo dia 8 de dezembro.
Confira entrevista concedida por Maurício Nogueira ao Jornal da Pecuária: