– Essa turma retornou ao trabalho no dia 4, um dia depois de o grupo de mais de 600 funcionários do primeiro turno entrar em férias, conforme cronograma estipulado pela companhia no revezamento dos turnos. Mas no dia 5 a Doux os mandou para casa novamente e agora não há funcionários trabalhando por lá, já que os dois turnos de produção estão afastados – explica Santos.
Na unidade são abatidos diariamente 320 mil frangos nos dois turnos. Conforme Santos, a justificativa da empresa é a mesma, de equalizar o ritmo de produção, e a previsão é de que os funcionários do segundo turno voltem no início de maio, totalizando 30 dias, juntamente com o grupo do primeiro turno.
– Mas já há a possibilidade de esse prazo ser “esticado” até o final de maio – afirma.
O presidente do Sindicato está preocupado com o pagamento dos 30 dias a mais ao qual os funcionários do segundo turno têm direito.
– O ônus é todo da empresa, apesar de o município também “sofrer” em termos de arrecadação. A Doux nunca atrasou pagamento aos funcionários e, se houver falhas, não tememos entrar na Justiça – declara Santos.
A Doux chegou a ter três mil funcionários na unidade de Passo Fundo e hoje conta com cerca de 1,6 mil. A decisão da Doux de dar férias aos funcionários da unidade era adequar a produção à falta de matéria-prima.
– Estamos com mais de 80% dos produtores integrados da Doux sem alojar, porque não há pagamentos nem ração. O que a empresa nos informou é que estaria fechando parcerias com outras companhias para voltar as atividades normais da operação de aves – informa o assessor de política agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Airton Hochscheid.
Rumores dão conta que a JBS estaria em negociação para a compra da operação de frangos da Doux. Procurada, a JBS diz que não comenta rumores de mercado, mas fontes próximas à companhia afirmaram que análise da operação teria sido feita, mas a JBS teria desistido por conta do alto endividamento.
Suínos
Já a operação de suínos está normal, segundo Hochscheid, porque a BRF Brasil Foods teria assumido as rações, alojamentos e os abates. Na ocasião da coletiva de imprensa sobre os resultados do quarto trimestre e de 2011, o vice-presidente de Assuntos Corporativos, Wilson Mello Neto, disse que a empresa “possui várias relações diferentes com outras companhias”.
– Abastecimento de rações, por exemplo, faz parte desse dia a dia que temos com essas empresas.
Ao mesmo tempo Mello ressaltou que a BRF tentou fazer negócio com a Doux (compra da unidade de suínos de Ana Rech – RS), mas o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) vetou, justificando que a empresa pode expandir as operações de suínos organicamente, via projetos greenfield (desde a planta), por exemplo, mas não via aquisições.
– Recuamos e não estamos mais negociando a aquisição de qualquer ativo da Doux – enfatizou o executivo da BRF na ocasião.
– Sabemos dessa restrição do Cade e acredito que a compra não tenha sido efetivada. Mas, na prática, no dia a dia, foi – destacou Hochscheid.
Procurada, a Doux Frangosul não se pronunciou sobre o assunto.