Para o governo, motivações comerciais podem estar por trás da decisão russa. Oliveira, no entanto, esquivou-se de detalhar essa suposição argumentando que esse papel cabe às associações representativas do segmento carnes.
O que fez o Ministério desconfiar que não se trata de questão sanitária foi a velocidade com que o relatório preparado pelo governo russo após visita técnica ao País chegou ao Brasil.
? Recebemos o documento em menos de cinco dias, um tempo recorde ? disse Oliveira.
Segundo ele, o relatório não considerou os debates e as explicações dadas pelo governo brasileiro em reunião final entre as duas partes ocorrida antes do retorno da missão à Rússia. O diretor explicou que essa apresentação de argumentos é uma praxe e, portanto, avaliações começam a ser realizadas em comum acordo após esses encontros. Oliveira garantiu que os técnicos brasileiros conseguiram responder a todas as indagações do país importador e, em princípio, é a reafirmação desses pontos que será feita na próxima semana.
? Surpreendentemente, o relatório desconsiderou as colocações, o que nos leva a crer que já estava rascunhado ? ressaltou.
Uma dúvida que ainda existe, de acordo com a equipe do Ministério da Agricultura, é se a medida vale para um segmento de produção dentro de uma determinada planta ou se para toda a unidade. As oito unidades indicadas no relatório russo compreendem, segundo o governo, três da Sadia, duas da Perdigão (as duas empresas se uniram no ano passado na BRF Brasil Foods), uma da Total Alimentos, uma da Agra e uma da Maggi.
O secretário de Defesa Agropecuária, Francisco Jardim, atribui inicialmente o problema à tradução do documento. Segundo ele, é possível que apenas alimentos processados possam ter sofrido algum tipo de restrição, ou seja, carne fresca, desossada ou industrializada não teriam sido contemplados com a medida.
O governo brasileiro aproveitará uma viagem à Rússia na semana do dia 15 de maio para “acabar de vez com a questão”. Inicialmente, a visita brasileira a Moscou seria para tratar da comercialização de produtos menos representativos na balança comercial dos dois países, como bacalhau, e seria conduzida pelo vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB). Agora, a expectativa é de que o embargo a unidades produtoras de carne seja um dos principais assuntos nas conversas.