A Rússia é um dos maiores consumidores de carne brasileira, apesar disso, apenas uma pequena parcela dos frigoríficos está participando deste mercado. Desde o início do embargo, no dia 15 de junho, 164 plantas estão proibidas de vender para os russos. Além disso, estão embargadas as vendas de qualquer frigorífico dos Estados de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul. O Serviço Federal de Fiscalização Sanitária da Rússia alega problemas sanitários. Representantes brasileiros do setor afirmam que o problema está na falta de clareza nas exigências do país.
O Ministério da Agricultura informou que vem tomando todas as medidas viáveis para acabar com a suspensão das restrições impostas às exportações e está cumprindo com todos os compromissos assumidos perante as autoridades russas desde junho, quando começou o embargo.
De acordo com o diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Fernando Sampaio, a Rússia não está na Organização Mundial do Comércio (OMC), tem controles próprios e estabelece seus próprios padrões. O Brasil tem um plano nacional de controle de resíduos e contaminantes e a Rússia pede algumas substâncias que não estão nestes planos. Segundo Sampaio, o Ministério da Agricultura vai incluir as exigências russas no ano que vem.
? A Rússia tem especificidades, mas é um cliente nosso e a gente tem que trabalhar para atender tudo que eles estão pedindo ? afirmou o diretor executivo.
O setor dos suínos foi um dos mais atingidos. As exportações para a Rússia em setembro apresentaram uma queda de 90% no volume, na comparação com o mesmo mês de 2010. O faturamento teve recuo de 88%. No acumulado do ano, a queda é de 37% em volume e de 28% em receita.
Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro Camargo Neto, o Brasil perdeu com o embargo porque a Rússia era o principal cliente da carne brasileira. No entanto, Camargo acreditava no início que a crise seria mais difícil de ser contornada. Apesar do resultado negativo, o setor está confiante no crescimento das vendas para outros mercados.
? Hoje a gente vê que felizmente conseguimos exportar muito mais para Hong Kong, Ucrânia, Venezuela e Argentina e o mercado interno vendeu bem. O que temos de positivo é que sobrevivemos quase não exportando para a Rússia e temos perspectivas de ampliar exportações para a Ásia, o que nos colocaria independentes desse mercado tão complexo e confuso ? afirmou o presidente da Abipecs.
As exportações de carne bovina foram menos prejudicadas. Muitos frigoríficos embargados conseguiram transferir a produção para unidades habilitadas e continuar vendendo ao mercado russo. No acumulado do ano os embarques tiveram um recuo de 12% no volume, mas um avanço de 16% na receita.
? Apesar de todo o embargo para a carne bovina, o Brasil tem conseguido manter o nível das exportações se a gente comparar o que a gente exportou de janeiro até agora. O país tem faturado mais que no ano passado no mercado russo. Então, as restrições não foram tão impactantes nas exportações ? disse Fernando Sampaio.
Os representantes do setor esperam uma melhor atuação do Ministério da Agricultura nas negociações com a Rússia. De acordo com Sampaio, o país ainda é o mercado mais importante para o Brasil.
? A gente tem que trabalhar com o Ministério da Agricultura para resolver e responder tecnicamente o que eles estão pedindo. Agora é necessário que o Ministério da Agricultura continue esse trabalho de diplomacia para tentar reabilitar as plantas que estão fechadas e, principalmente, os Estados ? completou Sampaio.
No entanto, Pedro Camargo Neto acredita que é difícil o Ministério da Agricultura conseguir atender todas as solicitações dos russos, já que não atendeu até agora.
? Acho que a Rússia vai continuar do jeito que sempre foi, com medidas intempestivas, poucas justificativas, de uma hora para a outra e com uma certa truculência ? disse o presidente da Abipecs.
Infográfico: saiba mais sobre o embargo russo