Cientistas conseguiram resolver um dos maiores desafios da alimentação animal. Pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia desenvolveram uma mamona sem ricina, uma das substâncias mais tóxicas conhecidas que chega a ser citada na Convenção Internacional para Proibição de Armas Químicas.
Proteína presente na semente da planta, a ricina inviabiliza o uso da torta de mamona, subproduto do processamento do óleo de mamona, na alimentação animal. Por isso, mesmo sendo potencialmente interessante para consumo na pecuária, o produto passou a ser descartado pelos produtores rurais.
Descoberta
Em pesquisa conduzida pela equipe da Embrapa, foram geradas mamoneiras sem a presença de ricina por meio de silenciamento gênico, técnica que permite “desligar” genes específicos.
Além disso, proteínas das sementes foram usadas em experimentos com ratos em uma quantidade de 15 a 230 vezes os valores da dose letal mediana, suficiente para matar metade da população dos animais pesquisados, e todo o grupo sobreviveu sem sequelas.
“Uma vez incorporado, esse resultado promoverá grandes impactos econômicos na cadeia produtiva da mamona e da produção animal, com inserção estratégica e competitiva na bioeconomia”, diz o pesquisador Francisco Aragão.
Mercado promissor
O teor de óleo na semente de mamona varia de 40% a 43%. Após extração, a torta resultante é utilizada como fertilizante orgânico, com baixo valor no mercado. A torta de mamona sem ricina poderá ser utilizada na formulação de rações animais, elevando, assim, seu valor de mercado.
Considerando a produção nacional estimada para a safra de 2017/2018 de 16,2 mil toneladas de bagas de mamona e que a torta representa cerca de 60% desse montante, a produção de torta da oleaginosa poderá ser de 9,7 mil toneladas para o aproveitamento na alimentação animal. Além do Brasil, a tecnologia tem potencial para ser empregada em outros países produtores de mamona, com destaque para Estados Unidos, Índia e China.
Próximos passos
Para que a mamona sem ricina chegue ao mercado, há diversas etapas a serem percorridas. “O próximo passo deverá ser a associação da Embrapa com empresa privada para incorporar a característica genética em cultivares de interesse comercial”, detalha o pesquisador José Manuel Cabral.
Após essa fase, a ser desenvolvida em laboratórios, será iniciada a etapa de experimentos em campo, para determinação dos parâmetros necessários para o registro dessas novas cultivares no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Em seguida, será necessário preparar o processo para aprovação pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). “Para percorrer todo esse caminho, o lançamento comercial da mamona sem ricina deverá demorar entre quatro a cinco anos, prazo necessário para cumprir todas as exigências da legislação brasileira”, prevê.