O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado ontem pela ONU, reforça alertas sobre o uso de energias fósseis. O documento traz uma avaliação científica dos últimos sete anos e estima que o aumento de 1,5ºC, comparado com o período pré-industrial, será atingido em 2030 — dez anos antes do previsto pelas autoridades ambientais. Quem comenta o assunto é o pesquisador Eduardo Assad, da Embrapa:
“Nós estamos alertando o setor de agronegócios há mais de 20 anos de que essas coisas [efeitos das mudanças climáticas] estariam acontecendo. No início dos anos 2010, começamos a perceber certas coisas, principalmente na pecuária. E aí começamos a alertar de que era preciso reduzir as emissões de metano, melhorar as pastagens, acabar com os pastos degradados — e que tudo isso entraria na equação de compra e venda de boi”, diz Assad.
Os pecuaristas reagiram ao contexto de mudanças climáticas, de acordo com Assad. “Hoje nós temos um protagonismo interessante na pecuária que é muito maior do que no setor de grãos. O pessoal de grãos ainda não acordou. É preciso acordar. Por que? A Europa já estabeleceu o famoso carbono de fronteira e vai querer saber se nosso produto é limpo ou não. Não basta falar que ele é limpo, tem que mostrar, tem que monitorar”, afirma ele.
“Sou defensor da energia solar. É interessante que havia, nos governos, uma posição refratária à energia solar. E aí, a partir do posicionamento de um ministro que liberou a geração de energia descentralizada, isso cresceu absurdamente. Mas ainda é menor que a energia eólica. Não se trata de dizer qual é melhor e qual é pior. O Brasil já tem condição de gerar energia o suficiente para substituir ou complementar a energia eólica. Poucos países no mundo têm condições parecidas. Por que não estamos turbinando isso, que muda nossa matriz energética, com mais força?”, questiona o especialista.