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Agronomia Sustentável

O engenheiro que não dá o peixe, mas ensina a pescar é tema do Agronomia Sustentável

Atividade do Engenheiro de Pesca é fundamental à manutenção da atividade que mais emprega e alimenta na região Norte do país

O peixe é a base do sustento de milhares de famílias do norte do país. No Amazonas, por exemplo, existem diferentes modalidades de pescaria: a artesanal, de manejo, a ornamental e também a esportiva. Por trás de todas elas, tem a ampla atuação de engenheiros. Este é o destaque do décimo episódio da terceira temporada da série Agronomia Sustentável.

No maior estado do país, essa atividade se mistura com a história, a culinária e o sustento local, sendo o setor que mais gera emprego por lá. “A atividade da pesca no estado do Amazonas é tradicional e cultural. Dependem dela as populações ribeirinhas, a capital e as cidades-polo do interior. É a atividade que gera a maior fonte de proteína animal para a alimentação da população”, conta o secretário de Pesca e Agricultura do Amazonas, Leocy Cutrim.

Segundo a Associação Brasileira da Piscicultura, em 2020 a produção nacional de peixe atingiu 802,930 toneladas, com receita de, aproximadamente, R$ 8 bilhões, gerando cerca de um milhão de empregos diretos e indiretos. “Nós profissionais da Engenharia de Pesca, Ambiental e Florestal, entre outras que fazem parte desta atividade, temos o papel fundamental de levar e compartilhar o conhecimento [sobre o setor]”, afirma Cutrim.

O programa visitou a Fazenda Bicho do Rio, em Iranduba, próxima a Manaus, para acompanhar um dia de pesca esportiva, uma atividade de lazer em que se deve ter o desprendimento de soltar o peixe após a captura. Para fomentar a atividade, o papel do Engenheiro de Pesca faz toda a diferença, principalmente na regularização ambiental de locais, como pesqueiros, assim como de embarcações.

engenheiro pesca
Fotos: Canal Rural

“Atualmente, na Secretaria de Pesca e Aquicultura, temos trabalhado fortemente no curso de formação de guias de pesca, conhecidos como piloteiros, que é a população tradicional, o morador ribeirinho, que pega o turista, o pescador esportivo em sua embarcação e leva para os locais de pesca. Então, conseguimos fazer a capacitação para essa mão-de-obra local para que ela consiga melhorar o serviço prestado ao pescador esportivo e, consequentemente, melhorar a geração de renda para ela”, explica o Engenheiro de Pesca formado pela Universidade Federal do Amazonas, Flávio Rubens Paes de Oliveira Júnior.

Atividade atrai estrangeiros

A pesca esportiva atrai cerca de 25 mil pescadores por ano ao estado do Amazonas, principalmente advindos da Alemanha, Estados Unidos e Canadá. De acordo com a Secretaria de Pesca e Aquicultura do Estado do Amazonas, o segmento de pesca esportiva movimenta cerca de R$ 150 milhões por ano e envolve outras atividades, como gastronomia, aviação, hotelaria e o varejo local.

O manejo correto é fundamental para que o animal capturado não se machuque. “As dicas básicas são manter o peixe sempre na horizontal, evitar ao máximo o contato com o pescado porque, no ambiente natural, ele tem um muco superficial, popularmente conhecido como a baba do peixe, que protege o animal das ações bacterianas e deve ser preservado”, conta Oliveira Júnior.

De acordo com a Secretaria de Pesca, apenas entre 4% e 7% dos peixes capturados na pesca esportiva não sobrevivem à prática, mas o objetivo é tentar manter o índice ainda abaixo disso.

Pesca de manejo

Outra modalidade que busca por índices sustentáveis é a pesca de manejo, cujo objetivo é cuidar de espécies ameaçadas. A preservação do pirarucu, um dos símbolos da região e que praticamente desapareceu dos rios da Amazônia nas últimas décadas, é o principal objetivo. Neste cenário, o Engenheiro de Pesca trabalha com a cultura, criação, conservação, captura e industrialização de organismos aquáticos. O estado do Amazonas tem, hoje, cinco mil manejadores diretos e o acordo de pesca estabelecido há dez anos, prevendo cotas de captura e a contagem da espécie, foi determinante para esse trabalho que alia a sobrevivência do peixe ao sustento das famílias locais.

O manejo também é o foco de uma iniciativa do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia em parceria com a Universidade Federal do Amazonas por meio de um Projeto Ecológico de Longa Duração (PELD) que estuda a diversidade da várzea. “Nós temos aqui [na universidade] nosso curso de engenharia de pesca que tem mais de 35 anos na Faculdade de Ciências Agrárias e sempre trabalhou com tudo que se relaciona aos recursos aquáticos da Amazônia. O pirarucu, dentre todas as espécies comerciais que temos no estado, sempre foi a estrela”, detalha a professora Maria Angélica de Almeida Corrêa.

Pesca artesanal

Além da pesca esportiva, ornamental e manejada, a artesanal é muito popular na região amazônica, como em Manacapuru, onde 10% da população do município vive da atividade. As principais características da modalidade são o uso de instrumentos mais rudimentares e o uso de pequenas embarcações.

A rede utilizada pelo grupo de pescadores da Colonia Z-09 de Manacapuru é fruto de financiamento obtido por meio do Banco do Amazonas. Foram os primeiros do estado a conquistar esse tipo de benefício, algo possível graças ao trabalho do Engenheiro de Pesca, como o Venâncio Silva Freitas, que já viveu na pele as dificuldades de ser pescador. “Eu estava em uma viagem de pesca e a gente acordou de madrugada com o barco alagando, então disse aos pescadores que ia estudar para obter financiamento para fazer a reforma do barco”, lembra.

Em 25 anos, estima-se que o projeto já tenha atendido mais de três mil pescadores da região. Na colônia, os pescadores recebem auxílio, principalmente na hora de resolver a burocracia para conseguir o financiamento. O secretário de Pesca de Manacapuru, Raimundo Bento Condera, destaca que a atuação conjunta entre pescador e Engenheiro de Pesca é ideal por unir conhecimentos teóricos e práticos em prol do desenvolvimento da atividade.

O curso de graduação em Engenharia de Pesca completou 50 anos no Brasil em 2020 e faz parte do Sistema Confea/Crea desde 1983. “Acredito que o Engenheiro de Pesca no Amazonas é um profissional que vai tentar trazer tecnologias para que a gente sempre tenha esse produto, que é o peixe, na mesa do nosso povo”, diz a profissional da área e conselheira suplente do Confea pelo Amazonas, Alzira Miranda de Oliveira.

O próximo episódio da série Agronomia Sustentável vai mostrar o papel dos engenheiros no setor de biocombustíveis. O programa é uma realização do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), Mútua e Canal Rural e vai ao todos os sábados, às 9h (horário de Brasília), com reprises aos domingos, às 7h30.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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