Os exportadores já pensam em vender outros produtos para o exterior, mas o que preocupa o produtor é a entrada do leite de outros países.
O desaquecimento nas exportações do leite em pó, carro chefe nas vendas para o exterior, acentuou a diferença na balança do setor lácteo em julho. Nos primeiros seis meses do ano, a entrada de produtos do segmento no Brasil superou os embarques em mais de US$ 35 milhões.
Em 2008, no mesmo período, houve um superávit de quase US$ 140 milhões. Tradings apontam a queda do preço do produto no mercado interncional como o principal motivo desta virada.
? Esse ano não está bom para exportação de produtos lácteos. O leite acompanhou um pouco o processo da crise mundial, mas há outros fatores conjunturais do mercado lácteo internacional, como excesso de produto, condições que ajudaram para a queda do preço ? disse o presidente da Serlac Trading, Alfredo de Gove.
Nos cálculos da principal exportadora de lácteos do país, a tonelada do leite em pó é vendida para o exterior abaixo dos custos de produção, com uma diferença de mais de US$ 1 mil. O enfraquecimento da moeda americana deixa os preços ainda menos competitivos e o recuo na cotação do petróleo também interfere nas vendas. A matéria-prima é a principal moeda de compra dos países importadores, concentrados na América Latina e no Oriente Médio.
Para contornar a situação, as tradings devem passar a exportar produtos de outros segmentos. Vender leite para o exterior fica ainda menos interessante com a tendência do mercado interno de alta nos preços.
? A gente tem que encontrar outras alternativas, encontrar outros produtos substitutos não ao leite, mas ao nosso negócio. Produtos agrícolas, como arroz, café, ou produtos que possam substituir ? acrescentou Gove.
Por enquanto, a queda nas exportações tem impacto pouco relevante internamente. As vendas de lácteos para o exterior representam apenas 3% do escoamento da produção brasileira.
? Não está acontecendo por enquanto porque realmente estes 3% não afetam exageradamente os nossos preços ? explicou o presidente da Leite Brasil, Jorge Rubez.
Para as cooperativas, o produtor está no limite. A preocupação gerada pelo déficit no setor lácteo é a entrada do produto de outros países no Brasil.
? Isso seria extramente danoso para o produtor no Brasil. O produtor hoje produzindo de US$ 0,30, US$ 0,40 de custo de produção e recebendo US$ 0,40. Ele está no seu limite ? concluiu o presidente da Cooperativa Agropecuária de Uberlândia, Eduardo Dessimoni.