Do município de Santo Antônio de Leverger até Barão de Melgaço em Mato Grosso, a única beleza é a dos ipês, que nesta época do ano florescem em meio a um cenário triste. A vegetação, que antes servia como alimento, hoje está praticamente sem vida. A falta de água castiga a região e atrapalha quem busca áreas para pastorear o gado.
? Tem que sair, tem que levar o gado pra lá, pra cá. Pasto não tem, está seco. É seca brava. Aqui na região está todo mundo reclamando, estou tendo que ir atrás de bagaço de cana para poder ajudar na alimentação ? relata o gerente de propriedade Adão Farias Beraldo.
Há 90 dias não chove na região. Além da estiagem, a cheia do pantanal no início do ano também foi um agravante. Para não colocar os animais em risco, os pecuaristas levaram o rebanho para terras mais altas. Mas com isso acabaram destruindo os pastos em meio ao barro.
O prejuízo apareceu agora. Com chegada do período seco as áreas pisoteadas não brotaram. Os animais disputam cada pedacinho dos únicos lugares em que nasceu alguma coisa.
Para evitar que seu pequeno rebanho de 20 cabeças passe por isso, o pecuarista João Benedito anda todo dia quase dez quilômetros. A cana cultivada, que era a única alternativa para tratar os bovinos acabou, e a rotina agora é pegar capim nas beiras das estradas e levar para a propriedade de dez hectares. O pecuarista já perdeu quatro cabeças de gado.
? Cortar capim da beira da estrada é a única forma criar. Se acabar o que tem na beira da rodovia eu não sei o que vou arrumar, porque não tem o pasto ? relata.
Para o pequeno produtor não existe sentimento pior do que ver uma criação que sempre foi bem tratada, sofrer.
? Ver um animal que você trata com tanto carinho deitar e não conseguir levantar é a maior tristeza ? desabafa.
O produtor rural Antônio Martins ainda não perdeu gado com a seca. Aos 80 anos de idade ainda esbanja vitalidade. No pequeno sítio o pasto ainda não está formado. A área que tinha começado a ser preparada secou. A única alternativa para alimentar o gado é a compra da ração, que não é barata. Para conseguir pagar a despesa, busca renda em outras fontes.
? Aqui se não chover se gasta três mil quilos de ração por mês. A renda que tem aqui não dá para pagar então eu trabalho para fora, eu faço cerca, ou o que aparecer, para comprar alimento para o gado ? conta.
Para o experiente produtor a única esperança para tentar resolver o seu problema e o dos demais companheiros é acreditar que São Pedro escute as preces.
? Se não chover pior fica. Espero que ele [São Pedro] mande chuva, porque a coisa aqui na seca é brava ? complementa.