A reclamação partiu de um criador de São Paulo, que prefere não se identificar. Ele é de uma família tradicional na avicultura. O pai dele cria frangos há mais de 40 anos. O produtor diz que a estratégia da indústria está inviabilizando os negócios na granja.
Por causa da oferta de carne, as indústrias diminuiram a quantidade de pintinhos nos alojamentos neste inicio do ano, aumentaram a escala de produção e esticaram o prazo de pagamento para os produtores cooperados.
Na granja do avicultor, o espaçamento entre um ciclo e outro de criação aumentou de 15 para 25 dias. O pagamento que antes era feito duas semana depois que os frangos iam para o abate agora leva um mês.
– A indústria conversa com a gente, diz que o momento tá difícil, que não pode remunerar melhor. Mas parece que este momento difícil nunca acaba – desabafa.
O presidente da Associação Paulista de Avicultura (APA) diz que todas as mudanças foram comunicadas com antecedência aos cooperados e que foram necessárias para conter a produção. O problema começou em dezembro de 2011.
Naquele mês foram repassados às granjas brasileiras mais de 552 milhões de pintinhos. Cerca de 45 dias depois, tempo do ciclo de criação, começou a sobrar carne no mercado. O preço no atacado caiu 30%. Recém agora, em abril, é que quantidade de alojamentos está se normalizando. Este mês deve fechar com 480 milhões de pintinhos, 70 milhões a menos que em dezembro.
– Esses são casos sazonais que foram provocados por crises, por falta de rentabilidade, onde a empresa tenta fazer aquilo que prejudica menos o produtor – afirma o presidente da APA, Érico Pozzer.
A reclamação do produtor é que as mudanças determinadas pela indústria pesaram no bolso. Por causa de crises como a atual, ele diz que já perdeu, nos últimos anos, 30% do rendimento. O avicultor alega que não está recebendo pela eficiência, pelo chamado fator de produção, como recebia cinco anos atrás.
A relação de eficiência na granja estabelece que, para dar lucro, um frango teria de consumir no máximo 1,7 quilo de ração para cada quilo de carne que produz. O produtor garante que mantém esta eficiência desde 2007, mas antes ganhava R$ 0,41 por ave. O valor atual é de R$ 0,38.
Consultores de mercado dizem que só tem uma solução pra esse impasse: o pequeno produtor precisa também criar suas estratégias pra se manter na atividade. Precisa se preparar. Até porque a tendência é de concentração das grandes indústrias, o que vai exigir ainda mais eficiência na granja, afirmam.