Exportação perde US$ 104 milhões por causa da ivermectina na carne

Autoridades norte-americanas limitam a presença de resíduos do medicamento no produtos importadosOs frigoríficos brasileiros exportadores de carne bovina acumulam prejuízo de US$ 104 milhões decorrente da rejeição de cargas por parte dos Estados Unidos devido à presença de resíduos de medicamentos antiparasitários à base de avermectina acima dos limites tolerados pelas autoridades norte-americanas. A informação foi prestada nesta terça, dia 8, pelo presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carne (Abiec), Antonio Jorge Camardelli, em audiência pública na Comissão de

A audiência reuniu representantes de todos os elos da cadeia de carne bovina para discutir os riscos da utilização de medicamentos da família das avermectinas, como a ivermectina, no controle de antiparasitários no rebanho brasileiro. Nas explanações, dois pontos comuns foram a necessidade de orientação dos criadores sobre os procedimentos para uso do medicamento e revisão dos prazos de carência de determinados produtos que, embora tenham concentrações do principio ativo semelhantes, os tempos de espera para o abate são diferentes.

Na opinião de Camardelli, as indústrias frigoríficas pagam o preço sem serem culpadas pela presença de resíduos de avermectina acima dos limites tolerados. O problema surgiu em maio do ano passado, quando as exportações para os Estados Unidos foram suspensas e retomadas no final de dezembro. Em agosto deste ano, um lote de carne exportada pelo JBS foi rejeitado.

Camardelli afirmou que neste ano as indústrias gastaram R$ 12 milhões em ações de controle, como visitas a fazendas e análises tanto de animais vivos como da carne processada.

? Mesmo assim não há certeza de que os resíduos irão atender aos padrões exigidos pelos Estados Unidos ? diz Camardelli.

O presidente da Comissão Nacional Permanente de Pecuária de Corte da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira, discorda que os criadores sejam os principais preocupados pelo excesso de resíduos do antiparasitário. Ele diz que, além do fato de o prazo de carência não ser padrão, desde que o medicamento foi introduzido no Brasil, em meados dos anos 80, as revendas de insumos associaram a comercialização da avermectinas à campanha de vacinação contra a febre aftosa.

Segundo Camardelli, o primeiro trimestre do ano é período de maior incidência de excesso de resíduos de avermectina. O pesquisador e chefe da Embrapa Pecuária de Corte, Cléber Soares, lembra que quando a as avermectinas foram introduzidas no Brasil existia a regra “579”, que representava os meses indicados para uso do medicamento: maio, julho e setembro. Ele defende maior fiscalização e monitoramento, e alerta para a resistência às avermectinas em bovinos e ovinos.

Na audiência, os técnicos do Ministério da Agricultura afirmaram que os laboratórios são responsáveis pelas informações dos produtos registrados, que devem ser testados por instituições de pesquisa, como universidades. O coordenador do Controle de Resíduos e Contaminantes (CRC) da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Leandro Feijó, afirmou que as análises mostraram excesso de resíduo, principalmente em 2009, quando atingiu 4,13%. No ano passado a incidência caiu para 1,56% e neste ano subiu para 2,34%. Feijó acredita que a média vai fechar o ano em 3%. Ele relata que o problema é mais sério em algumas regiões, como o oeste de Mato Grosso, o que mostra a necessidade de um trabalho sobre uso responsável.

O deputado Onyx Lorenzoni (DEM/RS), autor do requerimento da audiência, defendeu a realização de “um pente fino” nos registros dos medicamentos à base de avermectina. Ele defende que o assunto seja uma das prioridades da comissão no próximo ano.

O deputado Abelardo Lupion (DEM/PR) afirmou na audiência que irá solicitar uma comissão para investigar a alta dos preços dos insumos, como a vacina contra a febre aftosa. Pecuarista no Paraná, Lupion diz que enfrenta o problema da questão da carência dos medicamentos em sua fazenda, pois adquiriu produto para controle de berne que deveria ter ação de quatro meses, mas com dois meses e meses o gado estava novamente infestado.