Exportadores brasileiros de carnes estão atentos à possível lacuna que o presidente Donald Trump pode abrir nas relações comerciais do México com o mundo e buscam a abertura para a comercialização das proteínas suína e bovina com o país latino-americano. O cenário é de incertezas por causa das declarações do líder norte-americano, que tem planos de deportações de imigrantes, além de pressionar as empresas a criarem empregos nos EUA.
Desde a posse de Trump, os mexicanos têm sinalizado uma intensificação na busca por diversificar seus mercados fornecedores, inclusive com uma aproximação com o Brasil. O país latino-americano figura entre os maiores importadores de carnes do mundo e pode direcionar parte dessa demanda para a indústria brasileira.
Na próxima semana, o secretário de agricultura mexicano, José Eduardo Calzada, desembarcará junto com uma comitiva de empresários para uma reunião em São Paulo. “Para nós essa visita é emblemática. Primeiro pela distância que o México sempre manteve do Brasil e também pela exclusividade que eles sempre dedicaram aos Estados Unidos”, afirmou Francisco Turra, presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa a indústria de aves e suínos.
Atualmente, os mexicanos compram apenas carne de aves do Brasil e intensificaram essas aquisições nos últimos dois anos, reduzindo tarifas, depois que os Estados Unidos foram atingidos por um surto de influenza aviária – doença a qual o Brasil é livre. Já a proteína suína brasileira continua fora das prateleiras mexicanas. Segundo Turra, existe agora a possibilidade de abertura desse mercado, sendo que os mexicanos importam 1,05 milhão de toneladas por ano – principalmente de Canadá e Estados Unidos.
“O problema nesse caso é sanitário, por causa da aftosa com vacinação”, afirmou Turra. Ele diz que há a possibilidade de se abrir um canal por meio de Santa Catarina, o único Estado brasileiro com status de livre de febre aftosa sem vacinação, da mesma forma como está sendo negociado com a Coreia do Sul. Inicialmente, esses países comprariam a proteína suína apenas de Santa Catarina.
Turra afirmou que está em curso um processo de aproximação e que há associações mexicanas de processadores de carnes que têm forte interesse em comprar o produto brasileiro. A ABPA deve inclusive visitar essas indústrias na segunda quinzena de março. O representante, no entanto, não se arrisca a estimar qual seria o potencial de faturamento e de volume gerado por uma possível abertura do mercado mexicano à carne suína brasileira.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, afirmou que para o setor de carne bovina a expectativa é “ótima”. Recentemente, uma missão de veterinários mexicanos esteve no Brasil inspecionando fábricas para que o país possa comprar cortes processados bovinos. A visita foi realizada entre os dias 30 de janeiro e 8 de fevereiro. O resultado ainda não foi divulgado, mas Camardelli disse ao que “as informações comerciais e o retorno dos associados nos leva a crer que não vamos ter problema com os padrões mexicanos”.
A possível abertura do país para a exportação de carne bovina processada pode facilitar a habilitação para o produto in natura. “O México é um entre os principais importadores do mundo que tem um preço médio (pago pelo produto) excelente. Então, é um mercado que nos interessa muito”, afirmou Camardelli. Ele ressaltou que os padrões sanitários dos mexicanos são similares aos dos Estados Unidos, por isso não haveria grandes empecilhos em conquistar esse mercado uma vez que o Brasil recebeu o aval dos norte-americanos no ano passado. Ele também não se arrisca a estimar o potencial do mercado. “É preciso primeiro entender o que é esse mercado”, afirmou, ressaltando que seria uma via de mão dupla, com a possibilidade do Brasil também importar determinados cortes do México.
O país latino-americano já começou a dar sinais claros de aproximação. No início deste mês, o México autorizou a importação de material genético avícola do Brasil. No total, 13 empresas do Brasil foram habilitadas a embarcar ovos férteis e ovos embrionados SPF, ou seja, livres de patógenos específicos.